Mensagem de erro

|crimes de guerra

Os EUA encobriram o massacre de 64 mulheres e crianças na Síria

E se o império assassinar, num país do terceiro mundo, sem que a boa vontade do ocidente esteja a ver, será que os civis morreram mesmo? Investigação do The New York Times identifica mais um crime de guerra.

Crianças filhas de combatentes estrangeiros do Estado Islâmico brincam no campo de refugiados de Al-Hol, Hasakah, no norte da Síria ocupado pelos EUA e seus aliados do FDS, a 31 de Março de 2019
Crianças filhas de combatentes estrangeiros do Estado Islâmico brincam no campo de refugiados de Al-Hol, Hasakah, no norte da Síria ocupado pelos EUA e seus aliados do FDS, a 31 de Março de 2019 CréditosMaya Alleruzzo / AP Photo

O assassinato de dez civis (entre eles, sete crianças) em Cabul, no Afeganistão, por parte das forças armadas dos Estados Unidos da América, foi reconhecido apenas alguns meses depois do ataque. O «acidente» acabou por ser atríbuido à forma negligente como os EUA recolheram e avaliaram a informação recolhida pelos seus serviços, que confundiram carros e não viram as crianças na habitação, minutos antes de a bombardearem.

Este novo caso já não pode ser imputado à irresponsabilidade geral que parece grassar no exército mais caro do planeta. Como relata a reportagem do The New York Times (NYT), houve um esforço concertado por parte do exército dos EUA para encobrir os bombardeamentos que mataram, pelo menos, 64 mulheres e crianças sírias, perto de Baghuz.

«Em quase todas as instâncias, o exército promoveu a ocultação do trágico ataque», afirma a reportagem. Em Março de 2019, um drone militar fazia um voo de reconhecimento na Síria num dos últimos acantonamentos do Estado Islâmico no país, identificando, à beira de um rio, um grande grupo de mulheres e crianças. Inesperadamente, um jacto F-15E surgiu na área.

O bombardeamento foi-se sucedendo perante a confusão dos militares que comandavam o drone e que não tinham sido informados sobre o ataque. «Mas quem é que os está a bombardear?» perguntou um deles, num grupo de conversa privado a que o NYT teve acesso, «Acabámos de largar bombas em cima de 50 mulheres e crianças», é a resposta.

A notificação feita de imediato por um responsável desse destacamento, que desencadearia uma potencial investigação a um crime de guerra, foi prontamente ignorada. «O número de mortos foi minimizado, os relatórios foram sendo atrasados, saneados, classificados». Eventualmente, a coligação internacial liderada pelos EUA terraplanou, com bulldozers, o local do crime.

O primeiro reconhecimento oficial por parte dos Estados Unidos da América sobre o ataque surgiu esta semana, depois do NYT enviar as imagens e documentos que recolheu e que comprovam o sucedido.

Reconhecendo a existência de mais de 80 mortes, apenas 16 seriam, de acordo com os EUA, soldados do Estado Islâmico (EI), a que acrescem quatro civis. Sobre as restantes 60 pessoas assassinadas a teoria adquire contornos mais absurdos e grotescos: As mulheres e crianças seriam também combatentes do EI e, como tal, devem ser contabilizadas como tropas inimigas, tudo em «legítima defesa».

Nos quase mil bombardeamentos levados a cabo pelas forças militares norte-americanas em 2019 (4729 bombas e mísseis) na Síria e no Iraque, os EUA reconhecem apenas a morte de 22 civis. Em nenhum momento é feita menção deste ataque, levantando sérias dúvidas sobre o real número de vítimas civis da acção intervencionista norte-americana na Síria e noutros países.

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui