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Milhares nas ruas de São Paulo em defesa da democracia

Movimentos sociais, centrais sindicais e partidos políticos convocaram a mobilização que deu voz à defesa da democracia, após o ataque golpista realizado em Brasília por apoiantes de Bolsonaro.

Milhares de pessoas, em São Paulo, repudiaram as acções golpistas de domingo em Brasília 
Créditos / AbrilAbril

O protesto de São Paulo, que se juntou às mais de seis dezenas de acções convocadas em todo o Brasil esta segunda-feira, estava marcado para as 18h, mas bem antes disso na Avenida Paulista já havia milhares de manifestantes em defesa da democracia, indica o portal Brasil de Fato.

Depois dos ataques e da destruição protagonizados por bolsonaristas, no domingo passado, nas sedes dos três poderes em Brasília, os manifestantes gritavam «sem amnistia e sem perdão, queremos Bolsonaro na prisão».

No protesto, convocado pelas frentes Povo sem Medo e Brasil Popular e pela Coligação Negra pelos Direitos, a multidão exigiu a responsabilização do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, pelos «crimes cometidos durante o seu mandato», bem como a dos que participaram no «intento golpista e, principalmente, os seus financiadores, impulsionadores e as autoridades estatais coniventes», refere a fonte.

Manifestantes reunidos no centro de São Paulo, esta segunda-feira, dia 9 de Janeiro / AbrilAbril

«Já derrubámos Bolsonaro nas urnas, vamos derrubar o bolsonarismo nas ruas», clamou um membro da Uneafro ao microfone, num carro de som em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), no qual foram falando deputados e representantes de diversos movimentos, repudiando a tentativa de golpe e reafirmando a legitimidade das últimas eleições no Brasil.

Por volta das 20h, dezenas de milhares de pessoas dirigiram-se para o centro da cidade. As torcidas organizadas dos clubes de futebol paulistas Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo também marcaram presença.

Em declarações ao Brasil de Fato, Nani Sacramento, da direcção nacional da Central de Movimentos Populares, sublinhou que a manifestação era um «contraponto» ao «acontecido estúpido de ontem em Brasília, contra a nossa democracia».

«Foi um acto ilícito, criminoso na verdade, nazista. A força popular não é isso. A gente veio mostrar para eles, primeiro, que aquele lugar não é só deles, é nosso. Nós somos a maioria e essa maioria falou nas urnas no dia 30 de Outubro que Luiz Inácio Lula da Silva ia tirar o Brasil da escuridão, ia tirar o Brasil do buraco em que Bolsonaro [o] jogou», disse. «Democracia não é aquilo de ontem. Democracia é o que vocês vão ver hoje», defendeu.

Em Porto Alegre, 20 mil nas ruas pela democracia

Outra grande manifestação das muitas convocadas para ontem em defesa da democracia na região Sul-Sudeste teve lugar na capital do estado do Rio Grande do Sul.

Cerca de 20 mil pessoas caminharam pelas pelo centro de Porto Alegre pedindo a responsabilização dos envolvidos nas acções golpistas de domingo, com a danificação das casas dos Três Poderes. Por isso, gritaram «Sem amnistia e sem perdão».

O Brasil de Fato esteve presente na manifestação organizada pela Frente Brasil Popular, por centrais sindicais e movimentos populares e ouviu as declarações de vários manifestantes.

Em Porto Alegre, manifestaram-se cerca de 20 mil pessoas em defesa da democracia e contra o golpismo bolsonarista // Carolina Lima / Brasil de Fato

Alexandre dos Santos Nunes, trabalhador dos Correios e secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores de Correios do RS, afirmou que se tratou de «um golpe contra a nossa democracia» e defendeu a punição exemplar de «todos os financiadores, instigadores, todos os que participaram».

A professora Camila Reis destacou a depredação de objectos históricos e obras de arte. «É um acto terrorista que aconteceu. Nós temos que ter nítido que vivemos num Estado democrático e que ele tem que ser garantido», afirmou.

Juliana Guerra, membro do Directório Central de Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora nacional da União da Juventude Comunista, disse que «o que vimos ontem é uma demonstração [de] que não podemos nos encolher, e sim estar garantindo a saúde da classe trabalhadora, a saúde e segurança dos povos indígenas, do povo quilombola, de todos os povos oprimidos do Brasil. Somente com o povo na rua vamos conquistar isso».

Em seu entender, não era esperada a magnitude do que aconteceu, mas foi algo que não deixou ninguém surpreendido. «A gente acabou deixando o bolsonarismo derreter eleitoralmente, mas não tomámos medidas de combate muito práticas. Todo esse tempo bolsonaristas tiveram acampamentos, mobilização, e pouco se fez com a esperança de que eleitoralmente eles seriam derrotados. Derrotámos eles eleitoralmente, mas eles demonstram que ainda estão com moral de ir para as ruas e a gente tem que mostrar que o lugar deles é na lata do lixo da história», enfatizou.

Dary Beck Filho, dirigente do Sindipetro RS, afirmou que o sector dos trabalhadores petrolíferos repudia o que aconteceu e comentou o receio que os trabalhadores tiveram com a tentativa de bloqueio das refinarias. «Antes eram actos antidemocráticos, agora viraram actos terroristas. As pessoas que cometeram os actos criminosos, terroristas, têm que ser submetidos à força da lei», defendeu.

O dirigente sindical referiu ainda que quem já esteve em Brasília sabe que 4000 pessoas não fariam o estrago feito sem a conivência do aparato de segurança. «Nós já botámos 100 mil em manifestações e não chegámos nem perto dos prédios. E os caras entraram no STF, no Congresso, no Planalto, que tem segurança própria. A coisa mudou quando teve a interferência federal, isso também é indicativo que havia alguém trancando e esse alguém deve ser punido», acusou.

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