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Greve geral no Uruguai: «Aqui continua-se a lutar, aqui ninguém se rende»

Muitos milhares de trabalhadores aderiram à jornada de greve e mobilização convocada pela central PIT-CNT com o lema «Com o povo, pelos nossos direitos, contra o ajustamento regressivo».

Milhares de pessoas manifestaram-se esta quinta-feira em Montevideu contra a política neoliberal do governo de Lacalle Pou 
Créditos / @PITCNT1

Apesar de haver mobilizações convocadas em vários pontos do país austral, milhares de trabalhadores uruguaios dirigiram-se para a capital, Montevideu, juntando-se na Praça Independência, no âmbito da greve geral parcial (9h-13h) convocada pela central PIT-CNT (Plenário Intersindical dos Trabalhadores – Convenção Nacional dos Trabalhadores).

Exibindo bandeiras e faixas, partiram em direcção ao Palácio Legislativo, onde decorreu o acto central da jornada de mobilização por aumentos salariais, defesa da negociação colectiva, do sector público e de uma segurança social solidária.

A jornada de greve geral foi o culminar de múltiplas acções de luta, ao longo do último mês, com as quais amplas camadas da população e os trabalhadores uruguaios quiseram manifestar a sua insatisfação, tendo em conta os cortes previstos em várias áreas na proposta de Orçamento apresentada pelo governo de Lacalle Pou.

@PITCNT1

Num país em que há produção, milhares precisam de ajuda alimentar

Vários dirigentes sindicais falaram para a multidão que se juntou, esta quinta-feira, nas imediações do Palácio Legislativo. A intervenção final esteve a cargo do vice-presidente da PIT-CNT, José Lorenzo López, que questionou a orientação da política económica do governo de direita, sublinhando que, apesar de as exportações terem aumentado, se aprofundou o fosso entre os ricos e a grande maioria da população.

López falou de um governo de linha neoliberal que anuncia que as expectativas de crescimento económico do país são maiores do que o previsto e, mesmo assim, reduz a despesa na proposta orçamental.

Destacou igualmente o facto de, num país com 3,5 milhões de habitantes, se produzir alimentos para dez milhões de pessoas, e, ainda assim, a quase um ano do levantamento da emergência sanitária, continuar a haver dezenas de milhares de uruguaios a necessitar diariamente de ajuda alimentar. «Isto é inadmissível e por isso o movimento popular está hoje na rua», disse, frisando que «aqui se continua a lutar, aqui ninguém se rende».

@PITCNT1

A luta é necessária, contra a desigualdade, a precariedade e o desinvestimento

Lembrando que, da parte do governo, se tenta criar um «relato mediático» a questionar a luta, o dirigente da PIT-CNT reafirmou a importância de vir para as ruas. «Como não nos vamos mobilizar se os depósitos na banca nacional crescem em milhares de milhões de dólares, se crescem os depósitos dos uruguaios no estrangeiro em mais de nove mil milhões de dólares, cresce o produto interno bruto [PIB], mas a massa salarial cai substancialmente?», questionou, citado pelo portal da central sindical.

José Lorenzo López concordou com os responsáveis governamentais quanto ao facto de haver mais emprego, «mas o problema é que muitos desses novos empregos são de má qualidade e com salários magros», disse, sublinhando que a luta por «postos de trabalho de qualidade, com salários dignos, que permitam o desenvolvimento do trabalhador e da sua família», se deve manter.

A luta é ainda necessária porque é preciso o reforço de verbas para a Educação, para o ensino público, para a Saúde, para que não falte os medicamentos a ninguém, acrescentou, lembrando que a mobilização é também pela contratação de mais pessoal na Administração Central, pela vinculação dos trabalhadores precários, pela defesa de políticas sociais, destinadas à primeira infância, às crianças e adolescentes.

@PITCNT1

Referindo-se à área da investigação e ciência, López disse que não se entende como o governo de Lacalle Pou se propõe reduzir os gastos com investigação, inovação, ciência e desenvolvimento.

Na sua intervenção, o dirigente da PIT-CNT lembrou ainda que existe actualmente uma política deliberada de enfraquecimento das empresas públicas, como estratégia «perversa» de privatização e terceirização, e, neste sentido, alertou o povo uruguaio para que defenda o património de todos, porque «as empresas são do povo». As empresas públicas «não se vendem e muito menos se oferecem», clamou.

Perante a multidão, Lorenzo López reafirmou a importância de se lutar contra a fome e a carestia, pelo trabalho com qualidade, por melhores salários, pela defesa da negociação colectiva, das empresas públicas, contra o aumento da idade de reforma. Despediu-se gritando: «Vivam os que lutam!»

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