|Índia

Estafetas da Swiggy protestam na Índia contra a enorme exploração

Os estafetas da Swiggy, uma das maiores plataformas de entrega de comida ao domicílio, denunciam cortes brutais nos rendimentos. A greve desta semana teve maior impacto em Chennai, Hyderabad e Déli.

Protesto dos estafetas da Swiggy em Chennai, uma cidade com nove milhões de habitantes no Sul da Índia
Créditos / newsclick.in

Os trabalhadores da plataforma indiana têm estado a fazer greve e a realizar protestos em várias cidades do país subcontinental, acusando a Swiggy de ter aumentado aquilo que cobra aos clientes e reduzido drasticamente aquilo que paga a cada estafeta por entrega realizada: de 35 rupias (0,39 euros) para 15 rupias (0,17 euros).

Outros incentivos e bónus pagos aos estafetas, que, segundo o portal newsclick.in, variam de cidade para cidade, também foram reduzidos de forma substancial. Quando os estafetas deduzem as despesas com combustível e a manutenção dos veículos, fica muito pouco de rendimento.

Na cidade de Chennai (estado de Tamil Nadu, no Sul da Índia), os trabalhadores em greve têm levado a cabo vários protestos, que também têm existido noutras cidades, mas, segundo o Peoples Dispatch, é nas cidades de Bangalore, Hyderabad e na capital do país, Nova Déli, que a greve também tem conhecido maior expressão.

No entanto, a Swiggy, em vez de responder às reivindicações dos trabalhadores – que a empresa não reconhece como tal, mas como «parceiros de entrega», para evitar «confusões» de vínculos –, bloqueou, de forma punitiva, as aplicações dos grevistas.

Redução drástica nos pagamentos

O newsclick.in informa que em Chennai os estafetas sofreram cortes de quase 60% nos rendimentos. Em Nova Déli, as perdas foram ainda maiores, com os estafetas da Swiggy a receberem um terço e até um quinto do que auferiam antes. Um trabalhador em greve, Kabir, afirma que apenas consegue ganhar 18% do que facturava em Março, quando a Swiggy começou a fazer uma série de alterações nos pagamentos.

Kabir disse ao Peoples Dispatch que, então, o pagamento por entrega era de 40 rupias (0,45 euros) e que cada entrega era entendida como uma viagem de um quilómetro; se a distância a ser percorrida fosse dois quilómetros, então o estafeta recebia duas entregas.

Mesmo antes da quarentena imposta a 24 de Março, a empresa reduziu o pagamento para 35 rupias por entrega e, há dois meses, procedeu a um corte ainda mais drástico: 15 rupias. Há pouco mais de uma semana, revela ainda Kabir, a Swiggy alterou a distância fixada por entrega, que passou de um para três quilómetros.

Determinados extras foram cortados ou eliminados pela empresa – como o tempo de espera no restaurante (o estafeta recebia um X por cada minuto) e um bónus pela entrega realizada. O pagamento adicional de 20 rupias pelas entregas feitas entre a meia-noite e as seis da manhã ou no período das monções, à chuva, também acabou.

Em Nova Déli, diversas organizações sindicais solidarizaram-se com estes trabalhadores. Um representante do sindicato dos trabalhadores indianos de tecnologia informática (AIITEU) deixou claro, em declarações ao Peoples Dispatch, que os trabalhadores da tecnologia não querem que o seu trabalho seja aproveitado para explorar os estafetas.

Repressão sobre quem protesta

Alguns estafetas em greve revelaram que a empresa os penalizou por assumirem uma posição em defesa dos seus direitos.

Um deles, Raju, disse que, há cerca de dez dias, ele e alguns colegas estavam a protestar junto a um centro comercial contra os cortes nos pagamentos e a exigir o fornecimento regular de máscaras, uma vez que a empresa, em toda a quarentena, apenas lhes deu duas, não renováveis. «Tivemos de gastar dinheiro em máscaras e gel desinfectante», denunciou.


Então, apareceu alguém com uma caneta e um bloco de notas «e começou a fazer-nos perguntas. Pensámos que era um jornalista. Tirou-nos fotografias e apontou os nossos nomes e números de telefone antes de se ir embora», disse Raju. Dois dias depois, acrescentou, dez dos que ali estavam e participaram no protesto tinham as suas aplicações bloqueadas.

O seu líder de equipa disse-lhe que ia intervir desta vez para que o seu cartão fosse desbloqueado, mas advertindo Raju que não pode participar em protestos públicos contra a empresa. Entretanto, passaram três dias e, afirma Raju, ainda estão todos à espera de ver as aplicações desbloqueadas. «A empresa deve-me 1500 rupias [17 euros], mas eu não lhes tenho acesso enquanto não me puder ligar à plataforma com a minha identificação», explicou.

Entretanto, esta sexta-feira, a Swiggy enviou uma nota ao newsclick.in a informar que a situação em Chennai tinha voltado à «normalidade», mas sem se referir à situação noutras grandes metrópoles como Hyderabad ou Nova Déli.

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui