O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, disse esta quinta-feira que o seu governo iria «honrar o contrato» realizado em 2015 pelo governo anterior, de Mariano Rajoy, sublinhando em declarações a uma rádio que «não encontrou razões para não o concretizar».
Questionado sobre as garantias que possuía quanto à utilização das bombas pelos sauditas, no sentido de não provocar vítimas entre a população civil, Borrell disse que as bombas guiadas a laser têm «uma extraordinária precisão».
A reviravolta ocorre dez dias depois de a ministra da Defesa, Margarita Robles, ter confirmado que tinha dado início ao cancelamento do contrato celebrado entre ambos os países, relativo à venda de 400 bombas guiadas a laser, acrescentando que Madrid pagaria a Riade 9,2 milhões de euros pelas armas não entregues, informa a RT.
A decisão de cancelar o negócio estaria ligada, de acordo com a RT e a PressTV, às múltiplas críticas internacionais contra o massacre da população civil – mais recentemente em Hudaydah e na província da Sa'ada, onde foi atacado um autocarro cheio de crianças – levado a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen.
De acordo com algumas fontes, a reviravolta repentina fica a dever-se às pressões dos sauditas, que terão ameaçado não avançar com outros negócios – de maior monta – no futuro. Recentemente, o construtor estatal espanhol Navantia assinou com os sauditas um contrato no valor de 1,8 mil milhões de euros pela venda cinco corvetas.
Depois dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França, Espanha é um dos maiores vendedores de armas à Arábia Saudita.
ONU alerta para agravamento da situação humanitária
Numa entrevista concedida à agência Reuters, Meritxell Relaño, representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Iémen, alertou para o «inferno» que as crianças iemenitas estão a viver no seu país sob a agressão saudita.
Relaño disse que «mais de 11 milhões de crianças, ou quase 80% dos menores de 18 anos no Iémen, enfrentam a ameaça de escassez de alimentos, doenças, deslocamentos e grave falta de acesso a serviços sociais básicos».
Também ontem, a coordenadora humanitária das Nações Unidas para o Iémen, Lise Grande, emitiu um comunicado em que dá conta da «deterioração dramática» da situação em Hudaydah nos últimos dias e afirma que a população «está aterrorizada pelos bombardeamentos, disparos de artilharia e ataques aéreos».
Desde que a coligação liderada pela Arábia Saudita lançou uma ofensiva contra a cidade costeira, em 13 de Junho, os bombardeamentos são contínuos. «As pessoas estão a lutar pela sobrevivência, mais de 25% das crianças estão desnutridas, 900 mil pessoas na província estão desesperadas por comida e 90 mil mulheres grávidas correm um risco enorme», alertou a representante das Nações Unidas.
Afirmando que a população civil tem carência de tudo – dinheiro, cuidados de saúde, água potável e apoio especializado –, sublinhou que «as partes no conflito estão obrigadas a fazer tudo ao seu alcance para proteger os civis e as suas infra-estruturas».
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