«O povo precisa saber o que é soberania», disse o ex-presidente brasileiro e pré-candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT) às presidencias deste ano, num debate realizado, esta terça-feira, num encontro com especialistas e representantes da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
O evento, celebrado no Rio de Janeiro, debateu os impactos dos preços dos combustíveis e o futuro da Petrobras no país, revela a Rede Brasil Atual. Para Luiz Inácio Lula da Silva, há anos que é vendida uma narrativa «cheia de mentiras» para milhões de brasileiros, para manchar a imagem da empresa estatal, que envolve falsos prejuízos e mesmo casos de corrupção.
O ex-presidente entende que uma parte da elite do Brasil não aceita o fortalecimento do Estado. «A elite brasileira é colonizada, ela nunca aceitou a independência, nem a soberania. Então, tentar fazer o que construímos, onde fortalecemos as empresas nacionais, não foi aceito com facilidade», frisou.
«É preciso vencer a nossa narrativa. Eles construíram mentiras absurdas sobre a Petrobras e trabalhadores foram chamados de ladrões. Foi vendida a mentira que foi o ‘roubo na empresa’ que deu prejuízo», criticou.
O encontro dedicado à Petrobras contou também com a presença da presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann, do vereador Lindbergh Farias, do deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, André Ceciliano, do pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro Marcelo Freixo, entre outros.
Lula afirmou que a campanha eleitoral deste ano tem de fazer da defesa da Petrobras um dos seus pilares principais, para construir uma nova narrativa favorável à empresa. «Foi no nosso governo que aconteceu a mais importante capitalização da Petrobras, que fizemos a maior descoberta da história da estatal e a maior regulação para que a empresa fosse do povo», destacou.
«Então, precisamos vender essa narrativa e mostrar que o petróleo é nosso. A gente precisa transformar a Petrobras numa briga nacional. A pessoa que está cozinhando com lenha precisa perceber que a briga é dela. O cara que não consegue mais dirigir, por causa do preço do combustível, precisa saber que a luta é dele. A soberania será um dos motes da campanha, porque o povo precisa saber o que é soberania. Eu quero soberania para o país, assim como o povo quer para a sua casa. E o Brasil é a nossa casa», acrescentou.
Com a adopção do Preço de Paridade Internacional, gás de cozinha subiu mais de 300%
Nos últimos anos, a população brasileira enfrenta uma subida histórica nos preços dos combustíveis. Especialistas que participaram no encontro apontaram que a única maneira de combater esta crise é alterar a actual política de preços da Petrobras, dada pelo Preço de Paridade Internacional (PPI), orientado por flutuações no mercado internacional de petróleo e no câmbio, refere a Rede Brasil Atual.
O professor de Economia e vice-director do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Eduardo Costa Pinto, membro do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep), explicou que a discussão sobre o fim do PPI é urgente. Em seu entender, a estratégia apenas serve para colocar uma lógica privatizadora na Petrobras, para maximizar os seus lucros, e isso tem um impacto negativo na sociedade.
O economista Cloviomar Cararine, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e assessor da FUP, lembra que, desde 2016, com a adopção do PPI, o gás de cozinha subiu mais de 300%, enquanto o salário mínimo só cresceu 35%.
Já o presidente da FUP, Deyvid Bacelar, acrescentou que o problema do valor do combustível não tem a ver com impostos. «Quando iniciou a pandemia, nós fizemos ações com gás a preço justo para a população. A partir daquilo, conseguimos mostrar que o problema não é dos impostos, nem da guerra, mas é da política de preços, implementada por Temer e mantida por Bolsonaro. Não faz sentido nosso país, autossuficiente, cobrar esses valores baseados no dólar», disse.
Empresa estatal como pilar do desenvolvimento
O debate entre trabalhadores e especialistas também abordou a importância da empresa estatal para o desenvolvimento económico e social do Brasil. O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro, afirmou que o desmantelamento da Petrobras é um ataque directo à vida das pessoas.
«O preço do combustível afeta os mais pobres e o Rio tem papel importante no debate, porque boa parte do petróleo é tirado daqui. Não tem como não reerguer o Rio economicamente se não debatermos o papel da Petrobras diante do interesse público», disse.
Zé Maria Rangel, ex-presidente FUP, lembrou que a Petrobras, durante as gestões de Lula e Dilma, tinha como essência o desenvolvimento do Estado brasileiro, com a geração de emprego e rendimento.
«Quando Lula assumiu, ele prometeu recuperar a indústria naval e foi ironizado pelo presidente da estatal na época. Depois, a indústria naval gerou 90 mil empregos, os estaleiros viraram formigueiros. Hoje, por conta do alto desemprego, o Rio se tornou o estado mais desigual do país. Portanto, a estatal é um pilar fundamental no desenvolvimento nacional», acrescentou.
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