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Tragédias e manobras com Incêndios Florestais

Incêndios Florestais destes «só» acontecem no âmbito da ruína da agricultura familiar em consequência da aplicação, desastrosa, da Política Agrícola Comum e das políticas agro-florestais, definidas e aplicadas por sucessivos governos nacionais, ao longo de mais de 30 anos seguidos

CréditosPaulo Novais / Agência Lusa

Os Incêndios Florestais ocorridos entre os dias 17 e 21 de Junho, na Região Centro, estão na base de uma das maiores e mais brutais tragédias, com causas ditas «naturais», já acontecidas no nosso País!

A dimensão e o impacto são terríveis com – dezenas e dezenas de mortos e feridos – com devastações de todo o tipo – com prejuízos incalculáveis – com pessoas e populações inteiras em sofrimento dramático! Para ser um «cenário de guerra» só lhe faltaram os tiros e os bombardeamentos…

Sim, estes aspectos terríveis sobrepõem-se a tudo o «resto» e deve ser a partir deles que cada um de nós se deve posicionar. Com respeito pela dor imensa, com manifestações de solidariedade.

Porém, a tragédia que nos avassala, a tremenda memória – presente e futura – das perdas incríveis e do sofrimento, também justificam que se ponham – já – muitos «pontos nos ii»:

– Como foi possível que tamanha tragédia tivesse acontecido, aqui ao nosso lado?! O que falhou? Quem (mais) falhou? Porquê?

– Que medidas estão a ser tomadas, designadamente pelo Governo; pelas Entidades Judiciais e Judiciárias; pelas Polícias, e a todos os níveis e âmbitos, para apurar o que se passou, para apurar causas e responsabilidades? Para, de imediato, se responsabilizar, e sem dó nem piedade, quem deva ser responsabilizado? Para se prevenir os Incêndios – para se prevenir o futuro – de forma a que nunca mais seja possível outra tragédia sequer parecida a esta!

Enfim, eu não cesso de me perguntar desde a manhã de Domingo, 18 de Junho: mas porque é que a Ministra da Administração Interna (pelo menos ela) ainda se não demitiu ou não foi demitida? Em primeiro lugar, por uma questão de respeito pelo sofrimento (evitável) de tanta Gente mas, até, também por uma manifestação de pudor político, democrático!!

Entretanto, o «sistema» que nos enquadra trata de lavar a face e de branquear responsabilidades mais profundas e seus responsáveis. Trata de lavar consciências e nem sequer hesita em manipular aquilo que, para além dela, também foi desencadeado pela tragédia.

Sim, a propaganda e a acção deste «sistema» manipulam, sem qualquer hesitação, mesmo as manifestações de dor extrema por parte de quem perdeu entes queridos, bens e recursos, portanto, de quem perdeu de tudo, e também manipula os bons sentimentos e a dedicação de quem, no «cenário da guerra», combate incêndios destes e socorre as vítimas; por parte de quem, em casa, não deixa de sofrer com o sofrimento dos outros a arranja variadas formas de ser solidário.

«Entretanto, o «sistema» que nos enquadra trata de lavar a face e de branquear responsabilidades mais profundas e seus responsáveis.»

Sim, o «sistema» entretém-nos (demasiado…) com os minutos de silêncio – com as sucessivas e «solenes» declarações – com os choros televisivos (sinceros ou não) – com as manobras de arrastamento no tempo – com as campanhas de donativos em contas bancárias – com infindáveis discussões, sempre cheias de pouco, e em que nunca se toca nas causas mais profundas que potenciaram e, afinal, tornaram possível que esta tragédia imensa acontecesse…

«Nem um segundo me calarei!»

Sim, o «sistema» quer que nós pensemos como ele, o «sistema», quer que nós pensemos!... Mas eu cá «nem um segundo me calarei!»...

Esta tragédia foi possível também porque houve falhas humanas e técnicas, terríveis, sobretudo Sábado, 17, e Domingo, 18.

As condições climáticas conjugaram-se e potenciaram as consequências. É verdade mas, obrigado, que até se poderá alegar que se estivesse a chover não havia incêndios destes…

Mas, só é possível que um incêndio florestal comece e só acabe depois de consumir dois ou três Concelhos (Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pêra – agora Góis e Pampilhosa da Serra) porque é «para arder» a Floresta que lá se encontra plantada, tal como lá está plantada, e logo que as condições climatéricas se proporcionem.

De facto, é desastroso deixar plantar, durante anos e apesar dos anteriores Incêndios violentos, sazonais, deixar oficialmente e até incentivar o plantio, em contínuo, de milhares de hectares seguidos com Eucaliptos – que são tochas carregadas de óleo… – entremeados ou não com milhares de hectares de Pinheiros Bravos – que são tochas carregadas de resina… Sim, é esse «ordenamento» florestal suicidário, mas instigado ao longo das últimas três décadas, que está na base dos extensos e violentos Incêndios Florestais.

Trata-se do excesso, «criminoso», de Floresta Industrial em regime de monoculturas contíguas e em produção intensiva. Ora, isto corresponde, sobretudo, aos interesses e ao «comando» estratégico da grande indústria das Fileiras Florestais e das Celuloses, em especial, as quais, ainda por cima, pagam a Madeira a (muito) baixos preços à Produção e, assim, retiram o interesse económico por uma gestão florestal (mais correcta) no vasto minifúndio. Mas, depois, «viram o bico ao prego» e vêm responsabilizar os Produtores Florestais por estes não fazerem a tal «gestão activa» da Floresta…

Grande Indústria das Fileiras Florestais que, do alto da sua arrogância económica, monopolista, não raro, faz chantagem sobre o País, aliás como agora já volta a fazer!

Incêndios Florestais destes também «só» acontecem no âmbito da ruína da Agricultura Familiar em consequência da aplicação, desastrosa, da Política Agrícola Comum (PAC), e das políticas agro-florestais, definidas e aplicadas por sucessivos governos nacionais, ao longo de mais de 30 anos seguidos. A ruína da Agricultura Familiar determina a ruína do Mundo Rural e o êxodo das populações do vasto interior…

Note-se que sempre tem havido quem, como a Confederação Nacional da Agricultura, CNA, que alertou sucessivos governos e governantes, que propôs alternativas, que lutou para que a Floresta Nacional não tenha sido transformada num autêntico «barril de pólvora». Lamentavelmente, não tem havido nem vontade nem coragem políticas por parte de quem, ao longo de tantos anos, já tem tido responsabilidades centrais na matéria, nomeadamente ao nível dos sucessivos governos.

Este é o contexto, este é o processo, que também fazem com que, por exemplo, apesar dos impressionantes meios colocados no combate a estes Incêndios Florestais a partir de Sábado 17, os Incêndios se tenham mantido activos, e terrivelmente destrutivos, dias e noites, noites e dias, seguidos!

Como atrás já se disse, a presença e a memória da tragédia, o respeito por tanta dor e tanto sofrimento, devem fazer com que tudo façamos – desde já – para que nunca mais seja possível outra tragédia, sequer parecida a esta! Para isso, é preciso combater e prevenir as causas realmente mais «incendiárias»! E sabe-se quais são elas…

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