O relatório, feito pelo Mapbiomas – iniciativa que integra diversas entidades dedicadas a estudos e acções de protecção ambiental –, comprova que o agronegócio é o principal responsável pela desflorestação ilegal no país sul-americano.
Comparando 2020 com 2021, a perda de cobertura vegetal aumentou 20%, com registo de alta nos seis biomas brasileiros: Amazónia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa.
O estudo, divulgado esta segunda-feira, aponta que a agropecuária foi responsável por 96,6% da perda de vegetação nativa, principalmente na Amazónia, que concentrou 59% da área desmatada no período, seguida pelo Cerrado (30%) e pela Caatinga (7%).
A destruição concentrou-se em duas regiões onde a sócio-biodiversidade tem sido rapidamente transformada em pasto, mercadorias agrícolas e especulação fundiária. Ambas se consolidaram como pólos agropecuários durante o governo de Jair Bolsonaro, refere o Brasil de Fato.
A primeira região situa-se na Amazónia, nas fronteiras entre os estados de Amazonas, Acre e Rondónia. Conhecida como «Amacro», a região foi palco de 12,2% de todos abates no Brasil em 2021. No Cerrado, o foco é a «Matopiba», que se refere aos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde fica 23,6% do total desmatado.
«Os números mostram a prevalência e a estabilidade no nível de pressão da agropecuária nos últimos três anos, quando a atividade foi responsável por percentuais de desmatamento acima de 97%», lê-se no estudo.
É a primeira vez que o relatório anual do MapBiomas identifica as actividades relacionadas com a devastação ambiental. À agropecuária (97%), seguem-se o garimpo (0,5%), a expansão urbana (0,4%) e a mineração (0,1%).
O agro desmata
No discurso oficial, os gigantes do agronegócio garantem fazer tudo para bloquear a compra de gado a fazendeiros que promovem a desflorestação à margem da lei. No entanto, refere o Brasil de Fato, investigações policiais, da imprensa e de organizações não governamentais (ONG) têm mostrado que «legalidades e ilegalidades convivem no interior das mesmas cadeias produtivas do setor».
O ano passado, uma auditoria do Ministério Público Federal (MPF) concluiu que um terço do gado comprado pela empresa JBS no estado do Pará teve origem em áreas abatidas ilegalmente.
A maior processadora de carnes do mundo violou normas internacionais e continuou a comprar carne a 144 fazendas onde se verifica desmatamento ilegal, segundo a ONG Global Witness.
Invasão de terras indígenas
O alto lucro garantido pela JBS aos seus fornecedores elevou o Pará a líder histórico no ranking estadual de desmatamento. Não é por acaso que as três Terras Indígenas (TI) mais devastadas do país se encontram em território paraense, sublinha o portal brasileiro.
No ano passado, a actividade ilegal concentrou-se nas TI Apyterewa (8,2 mil hectares abatidos), Trincheira Bacajá (2,6 mil hectares) e Cachoeira Seca (dois mil hectares), segundo o Mapbiomas.
As três vivem conflitos territoriais crescentes provocados principalmente por invasões de fazendeiros, mas também de garimpeiros, grileiros e madeireiros.
Entre 2019 e 2021, mais da metade das 573 terras indígenas brasileiras sofreram algum grau de desflorestação.
Dezoito árvores por segundo
No total, a perda vegetal em todos os biomas brasileiros verificada em 2021 ascendeu a 16,5 mil quilómetros quadrados, o dobro da área abrangida pela Região Metropolitana de São Paulo.
O ritmo da devastação também acelerou. A velocidade média passou de 0,16 para 0,18 hectares por dia. No último ano, a Amazónia perdeu o equivalente a 18 árvores por segundo.
No Brasil, o corte da vegetação ocorre quase totalmente de forma ilegal. Apenas 0,87% da área desflorestada cumpriu as exigências legais.
«Para resolver o problema da ilegalidade é necessário atacar a impunidade. O risco de ser penalizado e responsabilizado pela destruição ilegal da vegetação nativa precisa ser real e devidamente percebido pelos infratores ambientais», disse Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, numa nota divulgada.
Estados que mais desmatam
No ranking estadual de 2021, o Pará, responsável por quase um quarto (24,31%) de toda a desflorestação no país, continua em primeiro lugar. Segue-se o Amazonas, que concentra 11,75% da área abatida.
Em terceiro lugar surge o Mato Grosso (11,47%), seguido por Maranhão (10,09%) e Bahia (9,19%). Nestes cinco estados concentram-se dois terços da área desflorestada no Brasil em 2021.
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