|Refinaria da Petrogal

Galp Matosinhos: afinal, era mesmo para a especulação imobiliária

Quando anunciou há dois anos que ia encerrar a refinaria de Matosinhos, a Galp apressou-se a afastar o cenário de estar a destruir aparelho produtivo para se dedicar à especulação imobiliária.

Refinaria da Petrogal em Leça da Palmeira, Matosinhos. Foto de arquivo
Créditos / JM

Para ajudar, o Governo, e não só, inundaram o país de possíveis cenários de reconversão industrial para serem colocados em Matosinhos, do Hidrogénio ao Lítio, normalmente com a megalomania das «elites» lusitanas, ao mesmo tempo que o governo fingia acreditar que esse encerramento contribuía para a descarbonização, como se as refinarias estrangeiras não poluíssem o mesmo planeta que as portuguesas.

Ainda não se passaram dois anos, e já é oficial: a Galp divulgou quem vai assumir o projecto de «regeneração» dos 240 hectares da desactivada Refinaria de Matosinhos. Será uma empresa estrangeira, a holandesa MVRDC, que responderá pelo «masterplan» para o «Inovation District», que em 12 meses desenhará o projecto com o apoio de seis outras empresas subcontratadas, onde nos destacam a «Thornton Tomasetti» e a «LostLandscapes», que tratarão da construção de um green park e de um centro de startups. Um embrulho cheio de modernices e anglicismos, no fundo para tentar disfarçar que estamos perante «the same old shit»: destruir aparelho produtivo e usar os terrenos para a especulação imobiliária.

Também fomos informados dos prazos: nos próximos quatro cinco anos, a Galp tratará de destruir e remover as instalações industriais, e depois proceder à descontaminação dos solos. Entretanto, a restrição no PDM de Matosinhos só estará em vigor até 2029, limitando apenas até lá a construção imobiliária a 10%. Claro que as negociações já decorrem para alargar essa quota, usando argumentos hipócritas como «a necessidade de fixar localmente os trabalhadores desta nova área de Matosinhos», e a Presidente da Câmara já abriu a porta a essa revisão que acontecerá quando for necessário ao projecto e, com firmeza, garantindo que nunca antes disso. E ainda nos enchem os ouvidos com as habituais saloíces sonantes, «o maior e mais marcante projecto de desenvolvimento do país e um dos maiores da Europa», «30 mil postos de trabalho», «milhares de milhões de euros de investimento».

Para liderar a equipa deste processo, os capitalistas da Galp escolheram uma Secretário de Estado do Governo PS em 2017/2018, que também foi mandatária de Rui Moreira. Uma ilustrativa combinação, que mostra bem as ligações (e submissões) de certo tipo de poder político aos interesses dos grandes grupos capitalistas.

E enquanto os capitalistas da Galp encerravam uma refinaria para poderem ganhar milhões na especulação imobiliária, os portugueses pagam na gasolina e no gasóleo toda a especulação que se abateu sobre o preço dos combustíveis, nomeadamente nas margens de refinação, que aumentaram mais de 500% num ano, o que ajuda a explicar os lucros extraordinários da Galp no primeiro trimestre – 155 milhões! - apesar de ter destruído um terço da capacidade nacional de refinação, e ter colocado o país a importar gasóleo, alcatrão, e dezenas de outros produtos refinados.

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