Na sequência da crise que se instalou com a pandemia, surgem incertezas e dificuldades em prever o que aí vem, mas também surgem novos desafios, sem «esconder o desejo de mudança que nos últimos anos vem aumentando devido a um sistema económico injusto, perverso e obsoleto, cujos efeitos são a fome e a desigualdade social, a guerra e o terror, o colapso climático do planeta, o esgotamento dos recursos».1
Neste contexto é de salientar a importância da realização da Bienal Internacional de Gravura do Douro, tanto para a cultura como para as artes do nosso país, ao assumir promover, divulgar e prestigiar uma prática artística como a gravura, que tem vindo a resistir aos «desafios da interioridade, da crise económica, da crise cultural, da própria crise da gravura e tem sabido manter vivos os pressupostos da arte e a autonomia da gravura no contexto da arte contemporânea» desde a primeira Bienal de Gravura que se realizou em 2001.
Refere ainda o curador Nuno Canelas que, «para tal, muito têm contribuído os tributos da gravura tradicional e as suas alquimias seculares, mas não menos importantes, das renovadas tendências da gravura digital e dos novos media ao seu dispor, no sentido de lhe conferir a autonomia que ela necessita para subsistir. O campo aberto às novas linguagens híbridas e técnicas não tóxicas, tem projetado o seu impacto de uma maneira inovadora e com a vitalidade há muito desejada nos seus domínios».
A 10.ª Bienal Internacional de Gravura do Douro 2020 decorre de dez de agosto a 31 de outubro, tem a curadoria de Nuno Canelas e será realizada uma homenagem ao artista plástico Silvestre Pestana. As localidades de Alijó, Bragança, Celeirós, Chaves, Favaios, Vila Nova de Foz Côa, Régua, S. Martinho de Anta, Vila Nova de Gaia e Vila Real vão receber as 1300 obras expostas pelas 16 exposições da Bienal, que vai contar com a participação de 625 artistas, provenientes de 64 países.
Das exposições que se realizam no âmbito da Bienal de Gravura do Douro destacamos a exposição «2.ª Guerra Mundial, 75 anos depois: testemunhar através da obra gráfica», que decorre no Espaço Corpus Christi2, em Vila Nova de Gaia, e a exposição de homenagem ao poeta, artista plástico e performer Silvestre Pestana3, que ocupa o Museu do Côa4 em Vila Nova de Foz Côa.
A 5.ª edição da Contextile – Bienal de Arte Têxtil Contemporânea em Guimarães é um evento cultural e artístico de âmbito internacional e decorre até 25 de outubro com o tema de «Lugares de Memória – Interdiscursos de um território têxtil».
A Contextile 2020 ocupará os vários espaços culturais e áreas públicas da cidade de Guimarães, com o objetivo de divulgar o que se faz na Arte Têxtil Contemporânea, em Portugal e no mundo.
No texto de apresentação, a organização refere, «entende-se o lugar através da sua dimensão temporal, pensam-se e repensam-se as definições assentes nas relações que se estabelecem entre espaço geográfico e identitário, social e político, artístico e estético, da memória e da imaginação, insistindo, assim, na ideia de lugar como espaço habitado.»
Para a Exposição Internacional da Contextile 2020, que vai decorrer no Centro Cultural Vila Flor5 foram selecionadas 58 obras de 50 artistas oriundos de 29 países pelo júri, composto por Lala de Dios, Janis Jefferies, Rosa Godinho, Jorge Costa e Cláudia Melo. Esta bienal convidou ainda os artistas Magda Soboń (Polónia) e Stephen Schofield (Quebec, Canadá)6, artistas de grande prestígio na área da criação têxtil contemporânea.
A Contextile convocou também oito artistas para a realização de residências artísticas, com o objectivo de realizar «projectos e produção de obras artísticas em site specific».
No âmbito desta Bienal organizam-se outras atividades com a comunidade e escolas, com disciplinas de técnicas têxteis como «Emergências»: Educação e Criação Têxtil, Workshops, Performances, Mostra de Cinema Ar Livre, uma Escultura Colaborativa; «Encontro Expansão», um projeto de intervenção multimédia proposto para os Tanques de Couros, com a direção artística de Joana Fins Faria e Romas Stukenberg; as conversas «TextileTALKS», como espaço de reflexão e debate de projetos e ideias sobre o têxtil no contexto da arte contemporânea e ainda «visitas orientadas e guiadas físicas e virtuais (de acordo com as normas da DGS), com artistas e curadores, em torno das exposições, destinadas a artistas, escolas e ao público em geral».
No Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal7, decorre a exposição de fotografia «Embodying The Landscape», de Rosa Nunes8, até 24 de outubro.
A exposição fotográfica de Rosa Nunes dirige a atenção para o corpo feminino, como afirma António Lopes, «tudo partiu do confinamento e do que ele nos proporcionou em termos de reflexão, desacelerando o tempo, permitindo-nos olhar com mais atenção não só o que nos rodeia como a nós próprios. A plasticidade do corpo tornou-se razão e objeto deste trabalho que representa a confirmação dos caminhos trilhados pela autora nos últimos anos».
O Museu da Fundação Cupertino de Miranda9, em Vila Nova de Famalicão, inaugurado em 1972, é uma instituição cultural ao serviço da comunidade e tem como objetivo promover o conhecimento da Arte Surrealista portuguesa, pretendendo assim, estimular o pensamento crítico e a criatividade. Neste momento da sua programação de exposições temporárias podemos ver «Só a Imaginação Transforma», até 31 de outubro.
Esta exposição surge como «ponto de encontro e diálogo» entre 33 artistas, pretendendo apresentar um conjunto de obras do acervo da Fundação Cupertino de Miranda menos conhecidas do público, embora, como refere o texto de apresentação, todas elas estão de alguma forma ligadas ao Surrealismo Português, desde o início do século XX até aos nossos dias.
Entre esculturas, objetos, colagens, pinturas e desenhos poderemos encontrar obras de artistas como Alexandre O'Neill, António Areal, António Dacosta, António Maria Lisboa, António Paulo Tomaz, António Pedro, António Quadros, Cândido Costa Pinto, Carlos Calvet, Carlos Eurico da Costa, Cruzeiro Seixas, Escada, Eurico Gonçalves, Fernando Alves dos Santos, Fernando de Azevedo, Fernando José Francisco, Fernando Lemos, Gonçalo Duarte, Isabel Meyrelles, João Moniz Pereira, João Rodrigues, Jorge Vieira, Julio, Manuel D'Assumpção, Marcelino Vespeira, Mário Botas, Mário Cesariny, Mário Eloy, Mário Henrique Leiria, Paula Rego, Pedro Oom, Raúl Perez e Risques Pereira.
«Só a imaginação transforma. Só a imaginação transtorna», refere Mário Cesariny n’A Intervenção Surrealista, num «livre exercício do espírito», em que toda «a imaginação é atuação do mundo».
O crítico de arte Rui Mário Gonçalves, afirmou que, «alguns jovens, quase todos oriundos do Neorrealismo, sentiram a partir de 1947 a necessidade de juntar à acção o sonho, o humor, o aproveitamento do acaso e a provocação imediata contra todas as convenções. Encontraram no Surrealismo a sua linguagem. O Grupo surrealista, criado nesse ano pelo poeta-pintor Mário Cesariny (1923-2006), o poeta Alexandre O'Neill (1924-1986) e os pintores Fernando de Azevedo (1922-2002), Marcelino Vespeira (1925-2002) e Moniz Pereira (1920-1988) aprofundou a problemática socio-cultural através das suas obras».10
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Todas as entidades garantem que estes eventos serão adaptados no sentido de se cumprirem integralmente as normas da Direção-Geral da Saúde (DGS) e todas as recomendações aplicáveis no âmbito da pandemia.
O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AE90)
- 1. Donatella di Cesare, Vírus Soberano? A Asfixia Capitalista, Edições 70/ Edições Almedina, 2020, p.17
- 2. Espaço Corpus Christi, Largo de Aljubarrota – Vila Nova de Gaia: 2.ª a 6.ª feira, 10h-13h (última entrada 12h30)/14h-18h (última entrada 17h30). Encerra 13h-14h para higienização do espaço
- 3. Silvestre Pestana (1949, Funchal, Madeira). Desde a década de 60 que este artista tem desenvolvido uma obra singular no panorama artístico nacional através de uma grande diversidade de disciplinas
- 4. Fundação Côa Parque – Rua do Museu, Vila Nova de Foz Côa. Horário: junho a setembro: 9h30 – 19h00; outubro a fevereiro: 9h00 – 17h30
- 5. CCVF – Palácio Vila Flor, Av. Dom Afonso Henriques, 70. Horário: Terça-feira a sábado, 10h-13h e 15h-18h
- 6. Magda Soboń no Centro para os Assuntos da Arte e da Arquitetura (Rua Padre Augusto Borges de Sá, segunda a sexta 14h30-18h e sábado 15h-18h) e Stephen Schofield no Convento de Santo António dos Capuchos (Rua Dr. Joaquim de Meira, terça-feira a sábado 10h-13h e 14h-18h
- 7. MAEDS – Av. Luísa Todi 162, Setúbal. Horário: 9h às 12h30 e das 14h às 17h30, de terça a sábado
- 8. Rosa Nunes (Torrão, 1955. Integra a equipa fundadora do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal [MAEDS], em 1974, onde permanece como arqueóloga. Fez o curso de Fotografia Profissional e o curso de Projecto Fotográfico na APAF (Associação Portuguesa de Arte Fotográfica) e ainda formações pontuais no AR.CO (Centro de Arte e Comunicação Visual)
- 9. Museu da Fundação Cupertino de Miranda – Praça D. Maria II, 4760-111 Vila Nova de Famalicão. Horário: 2.ª a 6.ª feira, das 9h30 às 12h30 e das 14h00 às 18h00. O edifício que aloja o Museu da Fundação Cupertino de Miranda é «emblemático tanto pelo seu revestimento azulejar, da autoria de Charters de Almeida (n. 1935), como pela estrutura helicoidal da torre com dez pisos, 21 salas e 34 metros de altura», foi uma obra projetada pelo arquiteto João Abreu Castelo Branco (acompanhado e completado pelo arquiteto Luís Praça)
- 10. Rui Mário Gonçalves, no catálogo «Arte Portuguesa 1992», Vista Point Verlag, Osnabruque, (Alemanha), 1992, p.36
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