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Reabertura lenta e protestos nas Artes

As artes continuam lentamente a despertar e os protestos continuam. Exposições na Galeria Diferença, no Teatro Municipal Joaquim Benite, na Fundação Eugénio de Almeida e Concurso Aveiro Jovem Criador.

Exposição «Segundo o seu próprio tempo», de Carla Rebelo, na Galeria Diferença, em Lisboa, até 27 de Junho
Créditos / Galeria Diferença

Continuamos na fase de reabertura das Galerias e Museus, assinalando que muitos dos museus e espaços de arte apenas assumiram a sua abertura no início de junho, atendendo a que muitos destes espaços em 18 de maio ainda não tinham todas as condições exigidas para abrir as suas portas ao público. A programação e os espaços nas artes plásticas continuam lentamente a despertar com muitas dúvidas e receios. Muitas das propostas e intenções que já se tinham afirmado nas artes visuais como confirmadas no início do ano, foram sendo progressivamente adiadas para o segundo semestre, tentando evitar-se o seu definitivo cancelamento como foi o caso da Culturgest, outras instituições continuam a reavaliar a possibilidade de repor as exposições ou prolongar as datas de encerramento, o MAAT reabre a 10 de Junho e no caso do Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG), em Guimarães, está à espera de orientações do Governo e das autoridades de saúde para refazer o seu calendário e o Museu de Serralves continua sem ter ainda informação sobre a reabertura, o Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, continua encerrado.

Os protestos continuaram com a acção «Parados, nunca calados», convocada pelo CENA-STE, que no dia 4 de junho encheu o Rossio em Lisboa, a Avenida dos Aliados no Porto e o espaço junto ao Teatro Lethes, em Faro, que juntou mais de 10 estruturas do sector cultural e artístico do país (entre elas o Sindicato dos Trabalhadores dos Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos/CENA-STE, CENDREV, Movimento de Mediadores e Produtores de Eventos, Manifesto em Defesa da Cultura, Acção Cooperativista, Plateia, STARQ, Rede, BAD, e a APEAC), onde se reafirmou a incapacidade de resposta por parte do estado para resolver os graves problemas de grande fragilidade neste sector, desde há muitos anos. Quanto à reabertura dos diversos espaços culturais e artísticos, não será tão cedo que a maioria deles irá abrir, de acordo com um parecer do CENA-STE, embora «sendo muito importante para uma possível retoma da actividade do sector, acarreta também um conjunto de grandes responsabilidades para as estruturas que tenham actividades previstas para o Verão e para quem gere os espaços que venham a abrir portas, quer sejam públicos (Nacionais e Municipais), quer sejam privados», considerando ainda, este parecer, que o acesso a testes deveria ser garantido gratuitamente para todos os profissionais envolvidos na produção dos espectáculos, exigindo «articulação entre o Ministério da Cultura e a Direcção-Geral de Saúde, no sentido de providenciar acesso aos testes no início de ensaios, tal como acontece já noutros sectores de actividade».

Entretanto já reabriu a exposição «Segundo o seu próprio tempo», de Carla Rebelo, na Galeria Diferença1, em Lisboa, até 27 de Junho e está em reprogramação a exposição «Regresso ao estirador», de António Lagarto, na Galeria de Exposições do Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada2. A Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, já reabriu as portas: «Strata», de Deanna Sirlin, com curadoria de José Alberto Ferreira, abriu ao público a partir de 6 de Junho; as outras duas exposições, «Do inesgotável», de Pedro Calhau, com curadoria de Mariana Marin Gaspar, e «Ilhéus», de Moira Forjaz, com curadoria de Paola Rolletta, estão ainda em fase de serem reagendadas. Reabriu já, também, a Exposição Aveiro Jovem Criador 2019 em Aveiro.

Na exposição «Segundo o seu próprio tempo» a artista procura dar continuidade a algumas das reflexões desenvolvidas na sua última exposição «Um Momento que se Repete Continuamente» (2018), em que o tema principal é o tempo. Segundo o texto de Sofia Ponte, a propósito desta exposição: «Não há como fixar o tempo. No entanto podemos pensar o tempo, visualizando-o em algumas situações poéticas, como numa visita a um gabinete de gestos mínimos. Um gabinete que apresenta uma noção de tempo sobre uma perspetiva subjetiva, provocando emoções e estados de espírito em vez de referenciar realidades visíveis. (...) a exposição propõe um percurso por trabalhos com uma escala manobrável onde o legado do têxtil, do minimalismo impuro e do apropriacionismo se conjugam de diversas formas... »3. Carla Rebelo tem uma licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes e um curso Técnico-Profissional de Desenho Têxtil na Escola Secundária António Arroio em Lisboa.

A exposição «Regresso ao estirador» «é sobre aquele lado do trabalho de cenógrafo e figurinista que é sempre o mais privado. Um deambular em torno do acto criativo e da sua vertente obsessiva, do momento de concepção, até à concretização, implementação e realização. Nesse processo, o trabalho ao estirador, o livro de anotações, os esquissos, os desenhos, o computador ou o tablet são parte integrante do processo. Serão esses vestígios o que agora se abordará e mostrará». António Lagarto estudou Arquitectura na antiga Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Em 1970 formou-se em Escultura na St. Martin’s School of Art e terminou o Mestrado em Environmental Media no Royal College of Art. O seu trabalho de cenografia e figurinos para teatro, dança, ballet e ópera tem sido apresentado em Portugal e no estrangeiro ao longo das últimas quatro décadas.

O Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida4, em Évora, é um espaço vocacionado para a promoção de ações artísticas e culturais, orientado pelo compromisso social e por práticas sustentáveis que aposta numa programação multidisciplinar, formativa e inclusiva, concretizada através de exposições, com um foco especial na arte contemporânea, assim como na organização de projetos performativos e de programas pedagógicos orientados para a sensibilização e motivação dos diferentes públicos. No âmbito de um grande projeto de requalificação do seu património monumental no Centro Histórico de Évora, em 2013 a Fundação deu uma nova vocação ao Palácio da Inquisição, que funciona hoje como um Centro de Arte e Cultura.

«Strata», de Deanna Sirlin (CAC - Piso 1). O trabalho desta artista «explora tanto a pequena escala (sobretudo com texturas e camadas de cor com recurso ao mixed-media) como a grande escala, que habitualmente aborda e trabalha em diálogo com os edifícios. Com recurso a materiais contemporâneos (vinis e outros suportes translúcidos), Deanna Sirlin cria para esta exposição grandes vitrais marcados pela cor e pela composição luminosa, uma criação translucente que se pode ver dentro e fora, dia e noite. Uma espécie de palimpsesto de cores que é também uma leitura das camadas de história do edifício. Uma exploração da cor como uma construção em torno da filosofia da história onde os contrastes, as cores, os materiais se constituem como matéria propositiva.»


A exposição «Do inesgotável» (CAC - Piso 2) procura revisitar uma seleção de trabalhos de Pedro Calhau (Évora, 1983), incluindo obras de desenho, pintura, escultura, fotografia, vídeo, texto e imagem. «É uma amostragem que se entende representativa e sugestiva da sua obra, não apenas no sentido de a dar a conhecer em diálogo(s) mas também de ativar e questionar o processo criativo que simultaneamente a une e a liberta.»

«Ilhéus», de Moira Forjaz (CAC - Piso 0, Sala Rostrum). Nesta exposição a artista «exibe uma série de retratos fotográficos de habitantes da Ilha de Moçambique, cidade geminada com Évora desde 1997. A exposição convida-nos a um diálogo com essa distância, mediado pela cor, pela luz e pela sombra que dominam os retratos.» Moira Forjaz nasceu no Zimbabué, em 1942. Estudou Artes Gráficas na School of Arts and Design de Joanesburgo. Trabalhou como fotojornalista na África do Sul e, a partir de 1975, como realizadora e fotógrafa documental de artes em Moçambique. Vive na Ilha de Moçambique onde trabalha, em conjunto com a comunidade local, em vários projetos sociais.

O Concurso Aveiro Jovem Criador 2019, organizado pela Câmara Municipal de Aveiro, na sua 18ª edição, dá assim continuidade a um evento potenciador da criatividade nas áreas artísticas, nomeadamente a Arte Digital, Audiovisual, Escrita (poesia), Fotografia, Ilustração, Música e Pintura. Este concurso é dirigido a duas categorias de jovens, dos 12 aos 17 anos e dos 18 aos 35 anos. Além dos prémios, que são, respectivamente, de 1000 euros e 500 euros, atribui também a oportunidade de frequentar uma Residência Artística Internacional ou Nacional, conforme a classe etária. A Exposição Aveiro Jovem Criador 2019 inaugurou em 22 de Fevereiro, encerrou durante a pandemia, reabriu no Dia Internacional dos Museus e vai decorrer até 22 de Junho no Museu de Aveiro/Santa Joana5, apresentando trabalhos de jovens artistas das diversas áreas artísticas.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AE90). Nas citações o autor respeita a ortografia escolhida pelo citado.

  • 1. Galeria Diferença, Rua São Filipe Neri, 42 c/v 1250-227 Lisboa. Horário: terça-feira a sexta-feira das 14h às 19h; sábados das 15h às 20h.
  • 2. Companhia de Teatro de Almada-Teatro Municipal Joaquim Benite (CTA-TMJB), Avenida Professor Egas Moniz, Almada. Horário: quinta-feira a sábado das 19h às 21h30; domingos das 13h às 17h.
  • 3. Excertos do texto de Sofia Ponte «Um Gabinete de Gestos Mínimos». Exposição «Segundo o seu próprio tempo», de Carla Rebelo, na Galeria Diferença.
  • 4. Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, Largo do Conde de Vila Flor, 7000-804 Évora, Portugal. Horário: terça-feira a domingo, das 10h-13h e das 14h-18h.
  • 5. O Museu de Aveiro/Santa Joana está instalado, desde 1911, no antigo Convento de Jesus da Ordem Dominicana feminina, fundado em 1458, onde viveu Santa Joana Princesa, a partir de 1472. Do séc. XVI ao séc. XVIII, o edifício sofreu inúmeras obras de ampliação, melhoramentos e enriquecimento artístico. Este equipamento, além do património arquitectónico, integra uma exposição permanente com um espólio significativo de obras de pintura, escultura, talha, azulejo ou ourivesaria. Morada: Avenida de Santa Joan, 3810-329 Aveiro. Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 12h30 e das 13h30 às 18h.

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