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Trabalho sofre «perdas devastadoras» a nível mundial

Um estudo da OIT estima que quatro em cada cinco trabalhadores foram afectados pela suspensão parcial ou total dos seus empregos, pelo confinamento social imposto para combater a pandemia em curso.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que quatro em cada cinco trabalhadores tenham sido afectados pela suspensão total ou parcial dos seus empregos, no contexto do confinamento social imposto para combater a pandemia da COVID-19.

A informação consta da segunda e actualizada edição do relatório COVID-19 and the world of work, distribuída esta semana em Genebra, na qual se descreve uma perigosa derrapagem da situação laboral no mundo em apenas duas semanas sobre o primeiro documento de monitorização, apresentado em Março passado.

Cerca de 2,7 mil milhões de trabalhadores (81% da força de trabalho no mundo) estão afectados por medidas de encerramento obrigatório (56% dos casos) ou recomendado de empresas em 79 países.

A situação está a provocar «perdas catastróficas» que ameaçam particularmente «as pequenas empresas» e atingem com dureza «trabalhadores desprotegidos» e «os grupos mais vulneráveis de trabalhadores na economia informal».

A «economia informal» contra os trabalhadores

Cerca de 2000 milhões de trabalhadores trabalham na «economia informal»1, uma designação para a «falta da protecção básica que um emprego formal habitualmente confere» e que inclui, além dos sectores tradicionais com elevado nível de precariedade, vendedores de rua e fornecedores de bens alimentares. Sem acesso a serviços de saúde nem subsídio de desemprego em caso de doença, os trabalhadores da economia informal estão significativamente fragilizados.

Em países como a Índia, a Nigéria e o Brasil o número de pessoas da economia informal afectado pelo encerramento de empresas e de espaços públicos é «substancial». Na Índia cerca de 400 milhões de trabalhadores (cerca de 90% da força de trabalho) estão nessas condições e a impossibilidade de sobreviverem em áreas urbanas «está a forçar muitos deles a regressarem a áreas rurais».

Por região, a taxa de informalidade no trabalho (excluindo a agricultura) é de 72% em África, 64% nos Estados Árabes (incluindo os ricos países do Golfo) e 59% na Ásia e Pacífico – mais de 50% dos trabalhadores a nível mundial estão nessas condições.

«A pior crise global desde a Segunda Guerra Mundial»

Os impactos da COVID-19 são «profundos» e «de longo alcance», afirma a OIT, reconhecendo que os resultados das medidas de encerramento obrigatório ou recomendado de empresas, como medida de contenção da pandemia, são de «uma dimensão maior do que a inicialmente prevista» na primeira edição do relatório e conduzem à «mais severa crise desde a Segunda Guerra Mundial» no mundo do trabalho.

A contracção de emprego dá-se, em muitos países, numa escala «frequentemente sem precedentes», com a alteração de horas de trabalho a permitir ter uma ideia da «crua realidade» no actual mercado global de trabalho. Nesse sentido, a organização prevê um declínio mundial de 6,7% das horas de trabalho durante o segundo trimestre de 2020 o que, contabilizando uma uma jornada semanal de 48 horas, equivale a menos 195 milhões de trabalhadores a tempo inteiro.

Cerca de 1250 milhões de trabalhadores (38% da força de trabalho global) estão empregados em sectores «severamente atingidos» os quais, «em países de rendimentos baixos ou médios, têm uma elevada proporção de trabalhadores na economia informal e trabalhadores com acesso limitado a serviços de saúde e protecção social», que enfrentam um «elevado risco de caírem na pobreza».

Essa é a situação de cerca de 482 milhões de trabalhadores empregados nas actividades de «comércio por grosso e a retalho» e de «reparação de veículos motorizados», assinala a OIT.

A segunda maior fatia de trabalhadores atingidos encontra-se na «manufactura», com 463 milhões de trabalhadores em indústrias-chave como a automóvel, a têxtil, as confecções, os couros e o calçado.

Outros segmentos duramente atingidos, envolvendo ambos mais de 260 milhões de trabalhadores, são o «imobiliário e actividades comerciais e administrativas» e o de «alojamento e restauração», este último merecendo um alerta especial no relatório devido à elevada percentagem de mão-de-obra feminina (54%) – a qual já sofre de uma reconhecida desigualdade remuneratória.

Sectores que a OIT considera atingidos de forma «média-alta», envolvendo no conjunto cerca de 384 milhões de trabalhadores, são os de «transportes, armazenamento e comunicações» e das «artes, entretenimento e recreação», com as mulheres a representarem, neste, 57% da força de trabalho.

  • 1. Mais recentemente surgiu o termo «gig economy», que pode traduzir-se por «economia do biscate».

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