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A ditadura dos governos ilegítimos

Se o governo de António Costa resolver proceder a novas reparações das injustiças salariais e nos valores das pensões sociais, não tarda que Bruxelas, o BCE, o FMI e os vampiros da agiotagem exijam o mítico défice zero, inscrito na Constituição alemã e jamais cumprido.

CréditosMartin Rowson

A Fitch, um dos três principais monstros agindo globalmente segundo os interesses da agiotagem internacional sob a designação de «agências de notação de crédito», proclamou que a instauração das 35 horas semanais em Portugal e a modesta reposição de direitos sociais e laborais determinada pelo actual governo de Lisboa podem fazer com que o défice orçamental português de 2016 atinja – imagine-se! – uns estratosféricos 2,7%. Aliás, o FMI da senhora Lagarde – ela própria a contas com a justiça em França por ter enganado o Estado – tem repetido o mesmo refrão, alegando que a política social e laboral do governo de António Costa contradiz as metas do défice.

Vamos ver então o que inquieta esta frente de instituições que inventa e fabrica crises para que os especuladores possam usufruir da imparável torrente de dinheiro dos bolsos dos cidadãos contribuintes para alimentar o seu insaciável vício cleptómano.

Não é verdade nem está demonstrado que a política social portuguesa possa gerar um défice de 2,7%. O executivo continua a defender a estimativa de 2,2%, abaixo da exigência de 2,5% imposta ilegitimamente pela União Europeia. Ora, todos estes números giram no reino das previsões e, no fim de contas, do absurdo. Como estão lembrados, e devido à obsessão alemã com o défice para que possa ditar leis no euro/marco, os critérios de convergência para integrar a moeda única estabeleceram um limite de défice orçamental de 3%, meta a maior parte das vezes incumprida pelos Estados-membros – entre eles os mais influentes –, sem contar com a violação geral do limite de 60% do PIB em relação à dívida soberana.

Pois bem, o que as agências de notação, a União Europeia e, a compasso, os ex-governantes que deixaram o país de pantanas se entretêm a discutir é uma variação do défice entre 2,2 e 2,7%, ou seja, sempre bem abaixo dos fatídicos 3%, já de si impeditivos de qualquer investimento público que se veja e de um crescimento económico aceitável. Isto é, estão a discutir e a fazer imposições políticas sempre no interior da margem determinada ditatorialmente pelos agentes de uma moeda única ao serviço da especulação financeira. Se o governo de António Costa resolver proceder a novas reparações das injustiças salariais e nos valores das pensões sociais, não tarda que Bruxelas, o BCE, o FMI e os vampiros da agiotagem exijam o mítico défice zero, inscrito na Constituição alemã e jamais cumprido.

Aliás, a Standard & Poors, irmã gémea da Fitch, aborda o assunto numa perspectiva, digamos, bastante mais humanista. Chegou à conclusão, de acordo com os seus cálculos sempre impecavelmente objectivos, que Portugal gasta com o sector mais envelhecido da população uma percentagem inadmissível do PIB, pelo que recomenda «que sejam tomadas medidas para corrigir» essa situação. Infelizmente, a Standard & Poors não sugere métodos para atingir esse objectivo, de modo a ficarmos a saber se já existem processos alternativos às invasões como a da Síria ou da Líbia, às câmaras de gás de Hitler ou às conhecidas injecções atrás da orelha.

Ironias à parte, é assim que funcionam hoje a independência e a democracia: os cidadãos votam, formam-se governos de acordo com a vontade dos eleitores, e em seu redor movem-se supragovernos que ninguém elegeu mas impõem, exigem, sabotam, chantageiam, em suma não deixam governar se as decisões forem contra os interesses dos especuladores e agiotas.

De facto, as discussões em torno dos défices orçamentais e a obsessão dos obedientes media com esse tema ignoram as políticas económicas e soterram-nas sob as conveniências do casino financeiro.

A Fitch e afins, o BCE, a Comissão Europeia, o FMI não querem saber para nada dos extraordinários esforços da economia portuguesa em domínios como o calçado, os têxteis, a pesca, a agricultura, o turismo, a inovação, a criatividade – sectores que resistem e progridem apesar das machadadas contínuas que a União Europeia continua a dar no tecido produtivo português. Para essas instituições, tal como para Schäuble e outros carrascos ao serviço do euro/marco, não é isso que interessa, mas sim os lucros insultuosos com as manobras de crédito a que os países são forçados, já que, ao contrário dos bancos privados, os Estados não podem financiar-se a juros próximos do zero junto do Banco Central Europeu. Sabendo-se, além disso, que a massa monetária em circulação tem uma base especulativa muito maior que a componente real resultante da actividade económica.

Joseph Stiglitz, ideólogo capitalista, cidadão norte-americano e prémio Nobel da Economia, tem denunciado constantemente estas aberrações neoliberais; fê-lo agora presencialmente em Portugal, mas palavras leva-as o vento. Ele não passa, afinal, de um impenitente radical, de um empedernido comunista.

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