Quando a chamada «caravana migrante» – que partira de San Pedro Sula, nas Honduras, a 13 de Outubro, com o intuito de chegar à fronteira com os Estados Unidos – começou a ganhar força e corpo mediático, a administração norte-americana reagiu afirmando que a eventual chegada dos «marchantes» às suas fronteiras constituiria uma «ofensa à sua soberania» e ameaçou retirar a ajuda financeira à Guatemala, às Honduras e a El Salvador, se os migrantes as tentassem atravessar.
Ao grupo inicial – integrado por milhares de pessoas originárias da América Central, na sua maioria hondurenhas – outros se seguiram, alegando, como o primeiro, que se decidiram pôr a caminho e empreender uma jornada de cerca de 4000 quilómetros para encontrar o trabalho e as condições de vida que não têm nos países de onde partiram, e, no caso das Honduras, procurando escapar à repressão do governo de Juan Orlando Hernández e à violência dos esquadrões da morte.
Durante o trajecto para norte em busca de uma vida melhor, lembra a TeleSur, estes emigrantes centro-americanos estão sujeitos a extorsão, ao recrutamento por grupos de criminosos, nomeadamente do narcotráfico, a redes de tráfico humano e enfrentam elevadas taxas de homicídio.
Mesmo assim, viajam. Apesar das ameaças de Trump, que disse ter planos de enviar uma força de cerca de 800 militares para a fronteira sul e, assim, conter de forma mais musculada do que até agora aquilo que é, em parte, consequência da política externa norte-americana no hemisfério.
Um morto na «vigilância reforçada» das fronteiras mais a sul
Entretanto, esta semana, o México e a Guatemala responderam com novas medidas que visam controlar este fluxo migratório, alegando ser necessário reforçar a vigilância fronteiriça, para impedir a entrada nos seus territórios de pessoas em situação «irregular».
Como consequência das novas medidas, que incluem o encerramento parcial das pontes internacionais entre o México e a Guatemala, e o reforço das acções de controlo para impedir a passagem para o primeiro país de «irregulares», os emigrantes deram contam à TeleSur do aumento de situações de repressão.
A mesma fonte informa que um hondurenho de 26 anos foi morto, este sábado, pela Policia Federal mexicana, ao ser atingido na cabeça por uma bala de borracha, quando tentava passar a fronteira através do rio Suchiate, entre Ayutla (Guatemala) e Ciudad Hidalgo (México).
Os bombeiros guatemaltecos confirmaram a morte, que se deu num contexto de forte repressão, com recurso a balas de borracha e gás lacrimogéneo, em ambos os lados da fronteira, depois de um grupo de emigrantes ter deitado ao chão uma cerca metálica que lhes barrava a passagem. Tanto a TeleSur como a Prensa Latina referem a existência de «confrontos», que provocaram vários feridos entre os migrantes e efectivos da Polícia da Guatemala.
Num comunicado emitido ontem, o governo guatemalteco afirma que permanecem «concentrados aproximadamente 3000 hondurenhos na fronteira de Tecún Umán [Ayutla]» e que, para lidar com esta situação, «prossegue a coordenação com os governos das Honduras, de El Salvador, do México e dos Estados Unido».
Cem «marchantes» acolhem «oferta» de Peña Nieto
Mais de cem membros da caravana de migrantes que atravessa o território mexicano decidiram aceder ao programa «Estás en tu casa» [Estás em tua casa], proposto esta quinta-feira pelo executivo do presidente Enrique Peña Nieto.
O programa, criado através do Instituto Nacional de Migração e da Comissão Mexicana de Ajuda a Refugiados, permite que os emigrantes possam permanecer no país de forma regular, com possibilidade de acesso a um emprego, enquanto durar o processo de apreciação do processo de cada de um.
De acordo com a Prensa Latina, 111 migrantes aceitaram estas condições, mas a grande maioria – vários milhares – decidiu prosseguir a marcha com o propósito inicial: chegar à fronteira com os EUA.
Dirigentes da caravana rejeitaram a proposta do governo mexicano, na medida em que os confina aos estados de Chiapas e Oaxaca, no extremo sul do país. Também disseram ser sua intenção seguir até à capital, Cidade do México, para ali dialogarem com autoridades federais e com a equipa do presidente eleito, Andrés Manuel López Obrador, que assume o cargo a 1 de Dezembro.
Unicef pede mais protecção para as crianças migrantes
A Unicef foi uma de várias agências das Nações Unidas que solicitaram, este fim-de-semana, mais apoio para as cerca de 2300 crianças que integram a caravana de emigrantes centro-americanos que prossegue a caminhada rumo aos Estados Unidos, indica a Prensa Latina.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lembrou que, ao aplicar procedimentos de imigração, os governos devem dar primazia às necessidades das crianças migrantes, e garantir-lhes protecção e acesso a serviços essenciais.
A Unicef sublinhou a «vulnerabilidade das crianças em movimento», referindo-se aos riscos de doença e de desidratação, bem como aos perigos de extorsão por parte de grupos criminosos, de roubo e violência sexual.
Alertou ainda para os traumas que a separação da família e as detenções deixam numa criança, e, nesse sentido, recomendou aos governos que «considerem outras alternativas», exigindo-lhes ainda que assegurem às crianças todas as garantias do direito internacional, como é o direito ao asilo.
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