Má onda na Marinha

A nomeação, há cerca de três meses, do vice-almirante Pereira da Cunha para vice-chefe do Estado-Maior da Armada, em acumulação com as funções que já desempenhava no Comando Naval do Continente, não deixou de causar estranheza, pelo facto de este oficial general atingir o limite de idade em Agosto.

Mas a surpresa estava reservada para o despacho do chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), do passado dia 29, que mantém o actual vice-CEMA na efectividade de serviço e cria a inédita situação de ter dois cargos do topo da hierarquia da Marinha ocupados por um vice-Almirante na situação de reserva, tapando a promoção a dois contra-almirantes.

Esta situação não deverá estar desligada, por um lado, da possibilidade de um carrocel de substituições, considerando que o actual CEMA termina o seu mandato no final do ano e a sua eventual recondução por dois anos ser de difícil concretização, dado que o limite de idade não lhe permitiria completar o mandato e de na Marinha haver a expectativa de um Almirante poder vir a ocupar, no início do próximo ano, a chefia do Estado Maior General das Forças Armadas, substituindo o actual Chefe, tido como muito ligado às políticas da anterior maioria.

Mas, por outro lado, não se pode desligar este estado de coisas do sobressalto motivado pela atitude do CEMA de demitir das suas funções o vice-Almirante Rocha Carrilho e da inédita providência cautelar que este interpôs e que aguarda ainda decisão do tribunal. Uma exoneração que se deu na sequência de aparatosas notícias publicadas no Correio da Manhã sobre eventuais movimentações de almirantes nos bastidores da Marinha e de rumores segundo os quais todas estas manobras visavam beneficiar dois oficiais generais tidos como muito próximos do CEMA.

Resta-nos aguardar por eventuais desenvolvimentos, nomeadamente pela decisão do tribunal, no sentido de se perceber como vai ser desatado este nó e, porque não, ficar na expectativa de que o ministro da Defesa Nacional se decida a assumir as suas responsabilidades e levar a bonança ao mar agitado em que navega a estrutura superior da Marinha.