O encontro decorre desde quinta-feira na Universidade Aristóteles de Salónica, sob o lema «Capitalismo, Pandemia e Saúde Pública», procurando abordar questões como: desigualdade no acesso à saúde; cuidados de saúde universais e privatização dos serviços de saúde; desafios e oportunidades para a saúde pública ou migrações, guerras e saúde, entre outros.
Alexis Benos, um dos organizadores do evento, que hoje termina, disse ao Peoples Dispatch que o momento da sua realização é «lamentavelmente oportuno». «Quando a Grécia enfrenta os efeitos devastadores de cheias e reformas laborais danosas para os trabalhadores, é hora de abordar a causa principal de crises semelhantes pela Europa fora: o capitalismo», disse Benos.
Na conferência da AIPSE, académicos e activistas europeus, refere o Peoples Dispatch, têm a oportunidade de confrontar a teoria contra o capitalismo com exemplos práticos de lutas sociais contra as políticas de austeridade e a mercantilização da saúde.
«Estas tendências mudaram profundamente o panorama da saúde na região, num contexto em que o acesso aos cuidados de saúde continua a cair, as condições de trabalho no sector estão em declínio e os espaços de discussão sobre a saúde são ocupados pelo sector empresarial», sublinha a fonte.
Uma conferência «fora da esfera do mercado»
Ao contrário do que ocorre na maioria das conferências devotadas à saúde, este evento foi organizado sem depender de doadores empresariais. «Organizar uma conferência sobre os efeitos do capitalismo nos cuidados de saúde, com a participação de académicos, sindicatos e movimentos populares, e fazer tudo isto fora da esfera do mercado, é um verdadeiro feito», disse Elias Kondilis, membro do comité de organização.
A ligação de investigação e activismo é uma das características que fazem com que esta conferência se distinga do conjunto de eventos em torno da saúde. O seu formato actual, refere o Peoples Dispatch, tem a ver com a história da organização.
Quando a AIPSE foi lançada a nível mundial, baseou-se fortemente no movimento anti-guerra associado à Guerra Americana no Vietname, recordaram Hans Ulrich Deppe e Asa Christina Laurell, dois militantes destacados da organização.
Nessa linha, a conferência deste ano foi construída por um grupo que integra estudantes e professores que partilham uma ligação forte a movimentos sociais de base.
Além de juntar teoria e prática, os encontros da IAHPE (na sigla em inglês) são marcados por outra característica distintiva: não hesitam em afirmar que o capitalismo é o maior perigo para a saúde. Ao insistir nesta afirmação e ao publicar as provas que a sustentam, a organização fez «o que era necessário», disse Vicente Navarro, um académico destacado no estudo dos factores sociais, políticos e económicos determinantes da saúde.
Persistem os efeitos devastadores da mercantilização na saúde
«Embora os efeitos devastadores da comercialização e da mercantilização na saúde tenham sido repetidamente comprovados, a tendência persiste. As práticas mais preocupantes persistem nos Estados Unidos, onde o capital privado está rapidamente a assumir o controlo dos cuidados de saúde», destacou a médica norte-americana Steffie Wollhandler na palestra inaugural da conferência.
A tendência consiste em comprar entidades de saúde, incluindo consultórios médicos, «através de dívida que é transferida para a contabilidade da entidade adquirida», explicou Wollhandler. Isto sobrecarrega o consultório ou hospital que foi adquirido com custos de juros.
Em combinação com outras estratégias de maximização de lucros, como a venda de infra-estruturas ou a transformação de hospitais e consultórios em cadeias, este processo leva ao seu colapso e liquidação, deixando as pessoas sem acesso aos cuidados de que necessitam, alertou.
Para impedir a propagação desta tendência nos EUA e noutros países, «o trabalho da Associação Internacional de Política da Saúde e das suas organizações de apoio continua a ser crucial», disse Wollhandler.
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