Sistema eleitoral do século XVIII garante poder nas mãos dos mesmos

A democracia à americana: Trump presidente e Clinton mais votada

Donald Trump foi eleito presidente dos EUA, apesar de a candidata do Partido Democrata seguir à frente no voto popular. O bipartidarismo mantém o poder, mas com o pior resultado dos últimos 20 anos.

Os apoiantes de Hillary Clinton continuam à espera que a candidata fale sobre os resultados eleitorais
Os apoiantes de Hillary Clinton continuam à espera que a candidata fale sobre os resultados eleitoraisCréditosAndrew Gombert / EPA

O candidato do Partido Republicano já garantiu mais de 270 dos 538 lugares no colégio eleitoral, o que lhe permite ser eleito presidente. Hillary Clinton leva vantagem no voto popular, já que o sufrágio de ontem serviu para eleger os membros do colégio eleitoral, que por sua vez elege o presidente e o vice-presidente dos EUA.

Os «grandes eleitores», como são conhecidos os representantes das candidaturas no colégio eleitoral, são eleitos em cada estado, em número proporcional à respectiva população. A candidatura mais votada ganha todos os lugares em todos os estados à excepção do Maine e do Nebraska, onde existem dois círculos eleitorais.

Desta forma, o candidato eleito não necessita de receber a maioria dos votos nem de protagonizar a candidatura mais votada. Esta deverá ser a quinta vez em que o presidente eleito não é o candidato com mais votos. Desde o início do século XX, uma situação idêntica aconteceu por uma vez, em 2000, quando Al Gore foi o mais votado e George W. Bush foi eleito presidente.

Este é o acto eleitoral em que o apoio popular aos candidatos do «Partido dos Negócios», como Noam Chomsky caracterizou os dois principais partidos, registou o ponto mais baixo dos últimos 20 anos. Desde a década de 1990, em que as candidaturas de Ross Perot recolheram 18% (1992) e 8% (1996) dos votos, que os partidos que se revezam na presidência desde meados do século XIX não recolhiam uma percentagem inferior aos 96%.

A desilusão com a administração Obama, face às expectativas criadas com a sua eleição em 2008, terá contribuído para o resultado inesperado, face às previsões dos media dominantes. Na verdade, os EUA continuam a enfrentar profundas contradições internas após o eclodir da crise económica e financeira, em 2007-2008. Apesar do resultado, não é expectável que a eleição de Trump traga alterações significativas, tanto no sentido da resolução dos problemas dos norte-americanos, como da política externa.

Com 92% dos votos contabilizados, Donald Trump recolhe 47,5% dos votos, enquanto a candidata do Partido Democrata regista 47,7%, de acordo com a CNN. O New York Times estima que a diferença final se situe em cerca de 0,5 pontos percentuais. No entanto, estas eleições foram marcadas por mais um tremendo falhanço de todas as projecções, que apontavam para uma vitória de Clinton até começarem a ser conhecidos os resultados definitivos de estados como a Florida, o Ohio e a Pensilvânia.

Foram ainda eleitos os 438 representantes e 34 dos 100 senadores. O Partido Republicano mantém o controlo de ambas as câmaras do Congresso.

De entre os vários referendos que tiveram lugar esta sexta-feira, foram aprovados aumentos do salário mínimo no Arizona, no Colorado, no estado de Washington e foi rejeitada uma proposta de redução do salário mínimo para os trabalhadores com menos de 18 anos no Dacota do Sul.

Por outro lado, foi aprovada uma iniciativa para reverter o fim da pena de morte no Nebraska, decretada pela legislatura estadual em 2015. No Oklahoma, foi aprovada uma iniciativa para ultrapassar uma decisão judicial que suspendeu a aplicação da pena de morte, depois da execução de Clayton Lockett ter demorado 43 minutos, em Abril de 2014. Na Califórnia, a proposta para eliminar a pena de morte deve ser rejeitada, numa altura em que estão contabilizados 99,3% dos votos.

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