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|armas nucleares

A bomba atómica

Não haverá um depois depois de a humanidade voltar a utilizar – militarmente – uma bomba atómica. Porque nada de humano lhe sobreviveria, e até a história desse acto final da nossa espécie ficaria por fazer.

Créditos / brasil247.com

«Criada no final dos anos 30, a bomba nuclear tinha dois propósitos: funcionar como arma de destruição maciça e como arma dissuasora. Preventiva. A intenção era não ser usada. É assim que o governo está a olhar para a possibilidade de taxar as grandes empresas que registem lucros inesperados devido à guerra na Ucrânia.» É assim que o Expresso começa um artigo de jornal, de 5 de Agosto de 2022, com o sugestivo título de «Costa guarda bomba atómica contra eléctricas».

Vamos por partes, que os disparates são muitos. As bombas nucleares foram criadas durante a Segunda Guerra Mundial, que decorreu entre 1939 e 1945. A primeira detonação de uma bomba nuclear ocorreu em Julho de 1945, no Deserto de Los Alamos, pelos EUA, e a sua utilização como arma contra uma cidade inimiga (Hiroxima) ocorreu em 6 de Agosto de 1945, ou seja, três semanas depois do primeiro teste.

Portanto, a arma foi criada para ser usada e foi imediatamente usada assim que disponível. Aliás, na altura da construção da bomba já a Alemanha Nazi tinha sido derrotada pelo Exército Vermelho (a capitulação incondicional ocorreu a 8/9 de Maio de 1945). E foi só por isso que se livrou de ser o primeiro alvo: os criminosos que arrasaram Dresden, num bombardeamento que matou dezenas de milhar de civis, não teriam hesitado em fazer da Europa o triste destino da primeira bomba nuclear. 

Durante quatro anos, o Exército dos EUA era o único que dispunha desses arsenais, o que lhe permitiu alguns atrevimentos como, por exemplo, a intervenção militar na Grécia para derrotar o Exército de Libertação, onde os comunistas tinham um papel decisivo. Winston Churchill apresentou propostas concretas para que a nova arma fosse imediatamente utilizada contra a URSS, atacando todas as suas principais cidades e matando dezenas de milhões de soviéticos, mas tal plano foi recusado pelos EUA por razões muito práticas: o prestígio da URSS, que derrotara o nazi-fascismo e libertara a maior parte da Europa, era imenso, e um tal ataque exigia uma prévia e gigantesca campanha anti-comunista e anti-soviética ou poderia virar-se contra os seus criminosos autores.

Essa campanha foi lançada, mas não tinha ainda criado essas condições quando, em 1949, os soviéticos realizam o seu primeiro ensaio nuclear. A possibilidade de utilização da bomba nuclear contra a URSS ou contra qualquer país desapareceu, e entrou-se, então sim, num quadro em que as armas tinham um efeito dissuasor porque existia a forte certeza da imediata destruição maciça tanto do agredido como do agressor. Que com o desenvolvimento dos arsenais, e o conhecimento do efeito de inverno nuclear, tornou-se a certeza da destruição planetária e não apenas dos países directamente intervenientes. É o quadro que ainda vivemos hoje.

«Aliás, a asneira maior é mesmo esse uso normalizado, corriqueiro. Quem não se lembra de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa falar da bomba atómica que seria a utilização do poder de dissolução da Assembleia da República?»

Feita a correcção histórica, com as consequências que são fáceis de deduzir, terminemos abordando a sua utilização no contexto em que o Expresso a usa.

A coisa não é propriamente original, e, sendo asneira, é usada de forma regular. Aliás, a asneira maior é mesmo esse uso normalizado, corriqueiro. Quem não se lembra de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa falar da bomba atómica que seria a utilização do poder de dissolução da Assembleia da República? Ora, a Assembleia foi dissolvida, realizaram-se eleições, existe um novo governo. O que é que a dissolução tem a ver com uma bomba atómica? Há um depois depois de a Assembleia da República ser dissolvida. Como haverá um depois se alguma vez o actual governo aceitar a proposta de taxar os lucros «inesperados» que alguns estão a ter com a guerra.

Mas não haverá um depois depois de a humanidade voltar a utilizar – militarmente – uma bomba atómica. Porque nada de humano lhe sobreviveria, e até a história desse acto final da nossa espécie ficaria por fazer.

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