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Receita para o golpe na Venezuela

Enquanto em Portugal, ao ritmo do processo contra-revolucionário, a realidade mediática se afastou dos trabalhadores e do povo concentrando-se nas mãos dos grandes grupos económicos e financeiros, na pátria de Simón Bolívar e Hugo Chávez o Estado tratou de democratizar os meios de comunicação.

CréditosMiguel Gutierrez/EPA / Agência Lusa

A morte de Orlando Figuera, o jovem que foi queimado vivo e esfaqueado por opositores numa manifestação, é a demonstração mais brutal do carácter violento da direita venezuelana. Como se não bastasse, a mãe acaba de ser despedida por ter dado uma entrevista a um canal público de televisão.

A família opositora para quem trabalhava dispensou-a, como se diz na gíria moderna, de voltar a aparecer na casa onde servia como empregada doméstica. Sobre isto, nem uma palavra da esmagadora maioria da imprensa portuguesa que fala da Venezuela como o regime da ditadura e do silêncio.

Na mais bonita das cidades feias do mundo, as paredes da capital venezuelana são a prova de que o povo que ali vive não é mudo. «Ou há pátria para todos ou não há pátria para ninguém», era para essa frase que as paredes de Caracas insistiam em chamar-me a atenção numa manhã quando saía do Hotel Odeón e recebia o cumprimento das várias prostitutas que se acotovelam à porta à procura de clientes.

Atravessava a rua e dirigia-me ao boulevard da Sabana Grande onde se encontrava uma espécie de Estado-Maior de velhos chavistas instalado de forma quase permanente numa esplanada. Un café negro pequeño, por favor, pedi ao empregado de mesa.

Ao meu lado, a companhia ininterrupta de Pinto e das suas enormes mãos negras. Havia sido da Marinha de Guerra até ter sido expulso pelo capitão a quem deu um murro. Depois foi para a Marinha Mercante. Mas nunca abandonou a sua alma de adolescente pugilista. Esse homem com coração de gigante, profundamente chavista e revolucionário, lia-me poemas sabidos de memória com a sua voz de garrafão.

Numa das manhãs, recitou-me uns versos sobre Simón Bolívar e lembrou-me a figura de José Leonardo Chirinos. O mítico zambo, que fora filho de uma indígena livre e de um escravo africano, conduziu uma poderosa rebelião, em 1795, constituída por negros, indígenas e mestiços cuja derrota acabou com o seu corpo esquartejado.

Ao seu lado, Gustavo Rodriguez folheava o jornal Ciudad Caracas e comentava-me que no dia anterior havia recebido no seu programa de rádio, emitido a partir de um antigo quartel da polícia agora ocupado, vários jovens da emissora Voz del 70.

«Hoje é certo que a imprensa é o principal meio para descredibilizar a revolução bolivariana e criar as condições para uma alteração estrutural na realidade política e económica daquele país.»

Tinham-lhe contado que haviam decidido encher o bairro de colunas e megafones numa experiência copiada da rádio Favela, do Brasil, em que a emissão era feita em directo. Gustavo, antigo guerrilheiro das Forças Armadas de Libertação Nacional, fundadas pelo Partido Comunista da Venezuela, usava este exemplo para demonstrar como as populações mais pobres participavam na democratização da informação e da comunicação.

Há uns anos, quando o governo colombiano anunciou a morte de Mono Jojoy, comandante das FARC, eu estava em Caracas. «Morreu o Mono, falta o mico», era assim que um dos principais jornais venezuelanos anunciava a notícia no dia seguinte, fazendo um jogo de palavras com Mono que significa macaco e com mico que é um tipo de macaco mais pequeno e que era também a forma de se referirem a Hugo Chávez, conhecido entre os seus apoiantes como mi comandante.

Em qualquer outro país, a edição do El Nacional seria imediatamente retirada das bancas e os seus responsáveis punidos. Sem qualquer pudor, a mesma oposição que na Europa e nos Estados Unidos denunciava a perseguição aos seus meios de comunicação expressava livremente o desejo da morte do Presidente da República daquele país sem quaisquer consequências.

De facto, a Venezuela é um dos países em que a liberdade de imprensa mais avançou com os sucessivos governos bolivarianos. Enquanto em Portugal, ao ritmo do processo contra-revolucionário, a realidade mediática se afastou dos trabalhadores e do povo concentrando-se nas mãos dos grandes grupos económicos e financeiros, na pátria de Simón Bolívar e Hugo Chávez o Estado tratou de democratizar os meios de comunicação. Na batalha mediática contra a hegemonia da direita, Hugo Chávez aprendeu rapidamente o poder da imprensa quando a oposição organizou um golpe militar com o apoio dos governos de George W. Bush e de José María Aznar.

Durante semanas, os principais canais de televisão trataram de criar as condições para arrastar o país para a tragédia. Desde então, a situação melhorou não obstante manter-se um desequilíbrio favorável à oligarquia. Com mais ou menos acertos, isto tem permitido armar os trabalhadores e o povo com fontes de informação alternativas e criar, inclusive, meios continentais ao serviço de uma cultura anti-imperialista como são os casos da Telesur e da Rádio del Sur.

Hoje é certo que a imprensa é o principal meio para descredibilizar a revolução bolivariana e criar as condições para uma alteração estrutural na realidade política e económica daquele país. As grandes agências de notícias trabalham incessantemente para transformar a mentira em verdade, a democracia em ditadura e a claridade em sombra.

Foi e continua a ser uma das receitas para o golpe.

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