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O ataque a Mossul

Mossul, no Curdistão iraquiano, tem sido considerada a capital do «califado» proclamado pelos terroristas do Daesh, desde que há uns anos saíram praticamente do nada e quase chegaram a Bagdade, passando também a ocupar parte da Síria.

A hora de Mossul chega ao mesmo tempo em que a situação dos terroristas em Alepo é cada vez mais periclitante
A hora de Mossul chega ao mesmo tempo em que a situação dos terroristas em Alepo é cada vez mais periclitanteCréditos

Deixemos um pouco como som de fundo as narrações épicas da comunicação social oficial sobre o assalto da «coligação internacional» chefiada pelos Estados Unidos para «libertar» a cidade iraquiana de Mossul; vamos antes ao fundo das questões que verdadeiramente movem mais um episódio da alegada e falsa guerra contra o Daesh, o Estado Islâmico ou Isis.

Mossul, no Curdistão iraquiano, tem sido considerada a capital do «califado» proclamado pelos terroristas do Daesh, desde que há uns anos saíram praticamente do nada e quase chegaram a Bagdade, passando também a ocupar parte da Síria.

Valeria a pena perguntar porque só agora a diligente «coligação internacional» chefiada pelo Pentágono decide ocupar-se de Mossul, quando está em acção há quase dois anos e não se lhe conhecem feitos de monta, a não ser inquietar-se com os resultados dos ataques conjuntos do exército sírio e da aviação russa contra o sector da cidade síria de Alepo ocupado e arrasado pelos terroristas da Al-Qaida.

Nestes quase dois anos de suave acção da «coligação» contra o Daesh, os mercenários terroristas apenas podem queixar-se amargamente dos danos que lhes foram causados pelos ataques das tropas sírias e da aviação russa: 586 localidades sírias libertadas, entre elas Palmyra e Deir es-Zor, e 12 mil quilómetros quadrados recuperados pelo governo de Damasco; e 35 mil invasores neutralizados, entre eles 2700 oriundos da Rússia e de territórios da antiga União Soviética – o que revela os interesses muito próprios que Moscovo tem em asfixiar o Isis.

A hora de Mossul chega ao mesmo tempo em que a situação dos terroristas em Alepo é cada vez mais periclitante. Moscovo e Damasco estabeleceram um novo período de suspensão dos ataques, para permitir aos civis que abandonem o sector ocupado da cidade antes de uma previsível nova ofensiva; infelizmente, parece que a ONU e a «coligação» não estão muito empenhados em dinamizar os necessários comboios humanitários.

Ao invés, não consta que no assalto a Mossul a «coligação» esteja preocupada em salvaguardar a segurança de milhão e meio de civis.

A única medida conhecida, tomada pelos «libertadores» de Mossul em favor das eventuais vítimas civis da ofensiva terrestre e aérea, foi preparar um campo com capacidade para 800 mil refugiados. Trata-se de um espaço destinado apenas à recolha de fugitivos, sem quaisquer outros cuidados logísticos que lhes permitam sobreviver.

«A «coligação» não desmantela o Isis, recoloca-o – diz-se também nos corredores diplomáticos»

O recente projecto francês apresentado ao Conselho de Segurança da ONU, e vetado pela Rússia sob uma nuvem de indignação internacional, interditava qualquer actividade militar contra o leste de Alepo – bombardeamentos de terra e aéreos ou mesmo sobrevoos – em nome da segurança dos civis. E se a Rússia surgisse com um projecto paralelo, mas em relação a Mossul? Quem vetaria?

No entanto, esta é apenas uma das várias circunstâncias graves da realidade em torno de Mossul. Porque não é segredo, nos meandros diplomáticos, que os serviços secretos da Arábia Saudita, país aliado operacional da «coligação», está a coordenar a transferência dos terroristas do Isis de Mossul para o leste da Síria – mais de nove mil, ao que consta – onde já têm nova missão definida: partir daí para tentar retomar Palmyra, Deir es-Zor e possivelmente Alepo, se entretanto a cidade regressar à soberania síria.

A «coligação» não desmantela o Isis, recoloca-o – diz-se também nos corredores diplomáticos. Assim aconteceu já anteriormente em Falujah e Jarablous, também no Iraque. As ofensivas causaram danos mínimos entre os terroristas, ficando estes em condições para desempenhar novas missões consideradas necessárias por quem os utiliza como peões estratégicos. Não há que esperar, portanto, uma resistência encarniçada à «coligação» durante o assalto a Mossul, pelo menos por parte dos bandos do Daesh.

As reais vítimas serão outras. Uma vez libertada Mossul, anunciou o presidente turco Recipp Erdogan, «só árabes sunitas, turcomanos e curdos sunitas aí poderão continuar». Confirma-se assim o objectivo de constituir um «Sunistão» no Iraque, no qual as tropas turcas se têm empenhado no terreno, através uma presença internacionalmente ilegal e contra a qual de nada valem os protestos do governo de Bagdade. Talvez assim se compreenda melhor a razão por que uma brigada de voluntários xiitas que participava no assalto a Mossul foi exterminada por um ataque da «coligação» – afinal «um engano», explicou o Pentágono.

Deste modo, será fácil adivinhar o destino reservado às minorias curdas iezidis e cristãs de Mossul, que não cabem na homogeneidade étnico-religiosa sunita que substituirá o domínio do Daesh na região. Por isso estas comunidades têm vindo a reclamar territórios autónomos. Quem as ouvirá?

Enfim, o episódio de Mossul não será encerrado com os cantos épicos de homenagem à vitoriosa saga da «coligação» expedicionária gerida em Washington.

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