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As eleições na Holanda, na França e na Alemanha

Segundo muitos comentadores, e de acordo com as declarações dos respectivos partidos, uma esperada viragem à direita nas eleições destes países iria ter consequências na solidez da União Europeia (UE), em particular da moeda única e da união bancária, para além de um maior controlo da imigração com perseguição especial à de origem muçulmana.

Ilustração de Álvaro Figueiredo
Ilustração de Álvaro FigueiredoCréditosÁlvaro Figueiredo

Mas, mesmo que em França, na 1.ª volta, Marine Le Pen tenha uma percentagem superior ao segundo candidato que passar à 2.ª volta e que o AfD seja o partido mais votado nas legislativas holandesas, há grande probabilidade de que Le Pen não seja a presidente que se segue, nem o AfD consiga formar governo.

Na Holanda o candidato da extrema-direita fez ontem um dramático apelo aos holandeses para defenderem o país dos emigrantes mas uma maioria absoluta do seu partido parece afastada. Na Alemanha, o partido da extrema-direita será derrotado, porém, tais resultados não serão o único elemento significativo a retirar.

Há que atender a que a esquerda, que justamente disso se reclama, tem prosseguido o combate contra as derivas comunitárias há muitos anos, prevendo acontecimentos e retirando lições do percurso de austeridade, da perda de soberania, do afastamento entre eleitores e dirigentes não eleitos das estruturas comunitárias, do agravamento das desigualdades entre países e em cada país, e do arrastamento de todos para agressões contra países terceiros que provocaram novos surtos migratórios.

Se não se atenderem a estas causas, que não são acidentais, poderiam as boas consciências entrar em elucubrações sobre novas formas de atracção para o vazio pelos deserdados…

Ou então, que é o que se perspectiva, concentrar a votação do povo de esquerda, na social-democracia e socialistas. Como se a memória tivesse que ser curta, fazendo esquecer que esses estão entre os principais responsáveis dessa deriva!

Se parte dos trabalhadores e da classe média se deslocaram para a direita, a responsabilidade também é deles que não souberam honrar nem com os seus princípios fundadores nem com sucessivas promessas eleitorais que foram defraudando.

Se as esquerdas conseguirem atrair os deserdados desta política, em termos significativos isso favoreceria políticas alternativas nesses países. Resta saber se elas o conseguem ou se se deixam enredar na «estabilidade» europeia, espécie de papel de embrulho das políticas que desiludiram essas camadas sociais.

No que respeita às eleições legislativas na Holanda, de 16 de Março, o actual primeiro-ministro, Mark Rutte (VVD), tem sido um defensor acérrimo das orientações da UE, sendo penalizado com as consequências sociais que isso acarretou, mas também lhe são assacadas importantes promessas eleitorais não cumpridas, como o não alívio fiscal para os rendimentos mais baixos ou a melhoria da qualidade dos cuidados para os mais idosos.

A coligação de centro que actualmente domina as decisões parlamentares é formada pelo Partido Popular pela Liberdade e pela Democracia (VVD), partido liberal, de centro-direita, adepto da desregulação dos mercados, que lidera a coligação de governo, e pelo Partido Trabalhista (PvdA), partido político social-democrata que se reclama do centro-esquerda.

Outros partidos holandeses são:

O Partido da Liberdade (PVV), partido de extrema-direita, conhecido pelas suas posições anti-imigração e anti-UE; o Partido Socialista (SP); o Partido Esquerda Verde (GL, Groen Links), formado em 1989 a partir da fusão de quatro pequenos partidos políticos de esquerda (o Partido Comunista da Holanda, o Partido Socialista Pacifista, o Partido Político dos Radicais e o Partido Popular Evangélico); o Apelo Cristão-Democrático (CDA), democrata-cristão, de direita; os Democratas 66 (D66), de centro, liberal e democrata, radical; a União Cristã (UC, ChristenUnie), de direita, cristão reformado; o 50PLUS, que se dedica aos direitos dos reformados; e o Partido Político Reformado (SGP), de extrema-direita, calvinista ortodoxo.

As sondagens publicadas na Holanda nos dias 5 e 12 deste mês, confirmam que o PVV, de Geert Wilders, deverá ser o partido mais votado nestas eleições legislativas com 30-32 lugares no Parlamento Twede Kamer, de 150 lugares, duplicando a sua representação desde as últimas eleições, em virtude de uma permanente exploração dos efeitos da crise decorrente da integração na UE e da crise imigratória, assacadas ao governo e UE.

Atrás, com 23-24 lugares, está o Partido Liberal (VVD, direita liberal), do actual primeiro-ministro (antes com 41) e depois a Esquerda verde com 17, que quadriplica a representação (antes com 4).

Seguem-se-lhes o D66 com 14, o SP com 12, o PvdA com 11 (antes 38), o 50Plus com 10 (antes com 2), o ChristenUnie (UC), com 5 (mantém), o art vd Di ren com 4 (antes 5) e o SGP mantém os 3 lugares.

A coligação actual terá de alargar-se a outros partidos para formar governo já que, como se espera, o Partido da Liberdade (PVV) terá dificuldade em formar governo com outros partidos.

Nas eleições de 2012, o PVV tinha descido bastante, depois de provocar a queda do governo, mas tem vindo a capitalizar diversos descontentamentos na Holanda, nomeadamente os que atrás referimos.

Há seis meses o jornal britânico The Independent referia declarações de Geert Wilders em que afirmava querer banir todos os símbolos islâmicos, incluindo mesquitas, escolas e centros de asilo islâmicos e o próprio Corão, enfim a «desislamização» total do país.

«Há seis meses o jornal britânico The Independent referia declarações de Geert Wilders em que afirmava querer banir todos os símbolos islâmicos, incluindo mesquitas, escolas e centros de asilo islâmicos e o próprio Corão, enfim a «desislamização» total do país.»

E defendia também a saída da UE, o corte de despesas com ajuda externa e o crescimento de verbas a afectar à polícia e à segurança. Um apoiante do Partido da Liberdade afirmava então a esse jornal: «O Islão está cheio de violência. Por que é que a comunicação social está a chamar radical a Wilders? Ele está apenas a dizer a verdade. É uma loucura que os políticos, com base nos direitos humanos, estejam a fazer crescer a islamização na Europa. O islamismo é contra a democracia, contra os direitos humanos, contra a livre escolha do pensamento. Não é segredo que a pena por deixar o Islão é a morte. Mesmo os pais matam os seus filhos. A educação e assimilação não vão funcionar em muçulmanos que se não querem tornar ocidentais. Isso já fez prova de não funcionar com muitos muçulmanos que vivem há muito tempo em França, Alemanha, Reino Unido, etc. Se a política de Merkel vencer, isso contribuirá para a liquidação da civilização ocidental. Já hoje muitos Europeus são mortos pelo Islão. Merkel é a líder mais idiota dos países ocidentais ao longo dos últimos 70 anos».

E como se não bastasse, o Ministro do Interior, no início deste mês, anunciou que os votos das eleições legislativas vão ser contados à mão para prevenir a fraude eleitoral, numa altura em que há «indícios do interesse da Rússia» no processo eleitoral (!!!). Medida não inocente que, sem o dizer, insinua que o governo russo apoiaria Wilders…Campanha semelhante está a acontecer já em relação às eleições da Alemanha…

Quanto às eleições presidenciais em França, cuja primeira volta será no dia 23 de Abril, a possibilidade de Marine Le Pen transitar para a 2.ª volta, em 7 de Maio, está, de momento, adquirida.

No final de Janeiro a Reuters dava conta de uma sondagem que lhe atribuía 26 a 27% dos votos, para disputar a 2.ª volta com Macron, de 39 anos, ex-membro do Governo de Manuel Valls, e fundador do «En Marche», que obteria nessa 1.ª volta entre 22% e 23% das intenções de voto. O socialista de direita Macron furtou-se às primárias dentro do PS e decidiu correr em pista própria, realizando uma campanha que tem procurado captar os desiludidos com a governação socialista.

Na segunda volta, segundo a sondagem feita pela Elabe para o jornal económico Les Echos, divulgada há uma semana, Macron bateria Le Pen com 65% dos votos contra 35% da candidata da extrema-direita, estando a fazer uma campanha para captar votos à esquerda e à direita. Mas à direita ainda há que contar com a determinação de François Fillon que, apesar dos escândalos de favorecimentos ilícitos a familiares, se apresenta como vítima do sistema judiciário e afirma que o seu julgamento será no sufrágio universal e não em tribunal.

Benoît Hamon, o escolhido nas primárias do PS, não iria além dos 16% a 17%, ficando retido na primeira volta, apesar de obter 42% dos eleitores de Hollande e 5% dos que votaram anteriormente em Mélenchon, da «França insubmissa», segundo um director da Elabe. Nesta sondagem Jean-Luc Mélenchon tinha 10%.

Hamon está a procurar ultrapassar Macron para chegar à 2.ª volta. Realiza neste momento contactos com «A França insubmissa» e, em Lisboa, afirmou encarar com simpatia os entendimentos entre o PS e o PCP e BE, que iria tentar em França.

Quanto ao PCF, que tem integrado a Frente de Esquerda, o seu secretário nacional Pierre Laurent, tem referido que só um pacto de maioria entre o PS, a França Insubmissa, A Frente de Esquerda e os Verdes podem conduzir à vitória da esquerda nas eleições presidenciais, e que hoje se abrem novas perspectivas que exigem muito diálogo no decurso deste mês de Fevereiro com vista às presidenciais e às legislativas, avançando a necessidade de entendimentos quanto à gestão das finanças, a luta contra a evasão fiscal, a reorientação na utilização dos fundos públicos, pôr em causa o Crédito de Imposto para a Competitividade e Emprego (CICE), uma reforma fiscal ampla e a gestão publica do sector bancário.

Nestas declarações ao jornal Politis, Laurent criticou Jean-Luc Mélenchon e a sua «França insubmissa», que querem um «entendimento» à esquerda contra os partidos, particularmente o PCF, procurando a sua diluição dos na sua candidatura e fazendo «pesca à linha» em zonas de sua influência.

Finalmente, e no que respeita às eleições legislativas na Alemanha, em 24 de Setembro, as sondagens já conhecidas dão para todos os gostos tanto mais que a procissão ainda vai no adro, a partir da definição do candidato do SPD, que desbloqueou a linha de partida para todos começarem a correr.

Uma sondagem do instituto INSA para o jornal Bild, divulgada no passado dia 6, mostrou o Partido Social-Democrata (SPD) à frente da União Democrata-Cristã/União Social-Cristã (CDU/CSU) com 31% contra 30%, a primeira vez que o instituto, que faz sondagens desde 2012, teve os sociais-democratas na dianteira e aos restantes partidos que teriam representação parlamentar, 12% para o AfD, 10% para o Die Linke, 7% para os Verdes e 6% para o FDP.

O barómetro da estação de TV pública, a ZDF, desta quinta-feira já confirmava, porém, a tendência, que se poderá acentuar, do SPD se distanciar da CDU: 34 % para o SPD, 30% para CDU/CSU, os Verdes 9%, o Die Linke 7%, a FDP 4%, a AFD 10% e outros 4%.

A distribuição de mandatos no Bundestag, actualmente, é a seguinte:

CDU/CSU com 310 deputados (em 2009, 239), correspondente a 34,1 % dos votos, SPD com 193 deputados (146) e 27,3%, A Esquerda (Die Linke) com 63 deputados (76) e 8,6 % e o Partido Verde com 64 deputados (68) e 8,4%.

O AfD tem uma grande subida (de 4,7 para 10%), já prenunciada nas eleições regionais do ano passado, e o FDP, que já participara no governo com a CSU, poderá regressar ao Bundestag depois de nas últimas eleições não ter conseguido ultrapassar a barreira dos 5% para ter representação.

Martin Schultz, ex-presidente do Parlamento Europeu, pelo seu trajecto, pode apresentar-se com um menor compromisso com a política da actual coligação do SPD com a CDU, o que não aconteceria com Peter Gabriel, que é vice-chanceler da coligação CDU/SPD e seu Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Isso vai facilitar-lhe a manobra de tentar nos próximos meses captar votos à sua esquerda para derrotar quer a extrema-direita da AfD quer a CDU. Se o não conseguir poderá sair destas eleições uma coligação do SPD com o Die Linke e os Verdes («Vermelho-Vermelho-Verde»).

Apesar de a AfD ter tido uma grande subida, não irá atingir os níveis da CSU e do SPD.

Mas para as eleições na Alemanha ainda faltam sete meses, as distinções programáticas irão clarificar-se, e ainda muita água passará por baixo das pontes.

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